Carla Rocha vai liderar manhãs da Renascença para "descomplicar" o mundo
07-10-2016 - 08:41

A Renascença vai surgir a 17 de Outubro com nova grelha e uma nova filosofia. Carla Rocha, que vai conduzir as manhãs, promete "uma rádio próxima das pessoas" e que "descomplica os temas da actualidade".

Tornou-se uma referência da rádio portuguesa com Café da Manhã, na RFM. Carla Rocha vai ser a voz das manhãs da Renascença, entre as 6h30 e as 10h00.

A 17 de Outubro, a sua rádio vai surgir com uma nova grelha e uma filosofia, com mais espaço para a palavra e a informação. Notícias, conversas, debates, reportagens e opinião vão marcar todas as manhãs da Renascença. Uma rádio apostada em explicar “os temas que têm impacto na vida das pessoas”, sempre com o ouvinte no centro, diz Carla Rocha.

Serás a voz das manhãs de uma Renascença renovada, que vai surgir na véspera de fazer 80 anos de vida. Que rádio é esta?

É uma rádio próxima das pessoas, uma rádio que descomplica os temas da actualidade. Vivemos num mundo complexo, mas a forma de o explicar não tem que ser complexa. Podemos falar a linguagem do ouvinte e aproximarmo-nos, tratando os temas que têm impacto na vida das pessoas que nos ouvem. É uma rádio, sem dúvida, próxima das suas pessoas.

Que linha seguirá a Renascença a partir de 17 de Outubro?

A tentativa de nos aproximarmos do ouvinte passa pela forma como lhes explicamos esses assuntos, como chegamos até ele. Não é com uma linguagem hermética e cinzenta, mas com uma linguagem leve, fresca e descomplicada. Uma rádio que ajude a ver o mundo em que estamos e que não diga só – que mostre.

As notícias estão hoje cheias de “sound bites”, ataques e contra-ataques. A Renascença quer ir além disto, explicando em que medida aquela notícia se relaciona com a vida de quem ouve?

É isso que falta. Vou no carro e pergunto: “Que impacto é que esta medida vai ter na minha vida? Por favor, expliquem-me isso.” O que é que representa para mim? O que representa para o meu vizinho, que é diferente de mim? É explicar o mundo de uma forma geral, mas aproximar-se muito.

É a visão da floresta e da árvore: muitas vezes nas rádios, sobretudo nas informativas, temos muito aquele hábito de dar a visão da floresta. E nós, enquanto ouvintes, com a visão da floresta, não sabemos que impacto aquilo vai ter na nossa vida.

É preciso dar esse ângulo mais de pormenor e trazer para a rádio histórias de pessoas que são protagonistas da actualidade, com poder de decisão, mas também os anónimos ou menos conhecidos, que são protagonistas da sua própria vida. A rádio é uma fonte de histórias e temos pessoas inspiradoras à nossa volta, sejam colunáveis ou não.

Através de notícias, conversas com protagonistas, debates e histórias, as manhãs da Renascença vão descomplicar a vida e a actualidade. Vais partilhar o estúdio com jornalistas.

A emissão será conduzida por mim por pessoas à minha volta que têm os factos. Eu sou aquela pessoa que, gostando de estar informada, não deixa de ter questões e querer reflectir todos os dias sobre questões que acabaram de acontecer ou que já são antigas.

Não tenho que saber os factos porque tenho pessoas à minha volta que os têm. Posso contar as tais histórias de pormenor, posso chegar com perspectivas completamente diferentes, que não deixam de ser as perspectivas das pessoas que nos estão a ouvir. Eu serei muito mais o ouvinte, quase. A nossa equipa de jornalistas tem a seu cargo esta tarefa de conversar sobre o que se passa no mundo, com base em factos. Isso não vai mudar.

Quando é que descomplicar se tornou o teu lema de vida?

Ganhei essa tendência de simplificar as coisas – tudo é simplificável, não é simplista, o que é diferente – através da rádio. Comecei a investigar esta área e a dar formações a executivos que tinham muito para dizer, mas ninguém entendia nada. Como levar as suas mensagens até às suas equipas, de uma forma que tenha impacto, que fique na cabeça, que seja memorável e os leve à acção?

Somos uma rádio, um meio de comunicação por excelência, e muitas vezes falamos de assuntos que não são perceptíveis. Se ouvi hoje na rádio qualquer coisa e não consigo dizer o que ouvi, explicá-lo por palavras minhas, é porque não foi explicada como deve ser. O desafio é esse: explicar de uma forma que toda a gente entenda.

Portugal é um país viciado em complicar?

Portugal e os portugueses estão viciados em complicar, mas tenho esperança, passo a passo, de contribuir para mudar isso.

Para ti, é um regresso à manhã, um período em que foste muito feliz e fizeste outras pessoas felizes. Estou a falar do Café da Manhã, da RFM.

Quando saio de casa às 5h15 sinto que aquele dia não vai ter 24 horas, vai ter 48. Sempre achei que começar o dia antes sequer de haver quase um carro na estrada é um privilégio. É um horário que adoro, que me dá muita adrenalina porque tudo está a acontecer naquele momento. De manhã queremos saber o que aconteceu.

Sobretudo no Café da Manhã e mais recentemente no Rocha no Ar, tornaste-te uma figura incontornável da rádio portuguesa. Mas confessaste que a tua estreia, numa rádio local de Albufeira, tinhas então 16 anos, foi um desastre. O que te fez manter na rádio?

Tinha uma visão do impacto que poderia ter na vida das pessoas se conseguisse superar aquele desafio. Conseguia visualizar-me a ter sucesso naquela profissão. A minha natureza é tímida, insegura, muito “low profile”, nada opinativa. Este é o meu “kit” de origem. O “kit” actual não é nada disso porque fiz um trabalho muito grande para me superar. Percorri esse caminho de achar que o microfone não me podia assustar, não é um bicho-papão, é um amigo, um veículo para me aproximar das pessoas. E isso é um privilégio.

Mas naquela estreia o microfone não foi um amigo.

Foi um pesadelo. Tecnicamente, foi um caos e depois houve um bloqueio. Deixei o microfone aberto e não conseguia dizer nada. Tinha pessoas a entrar no estúdio e a dizer: "Faz qualquer coisa.” Petrifiquei com o medo.

Chegaste à RFM em 1995.

Entrei com 23 anos. Comecei a desejar entrar na RFM quando percebi que podia estar na rádio, que não envergonhava. Quando se liga a RFM, sente-se a energia positiva – tal como quando entramos numa sala com pessoas com boa disposição e aquela energia nos contagia. A RFM cativou-me por isso, tinha sempre uma visão optimista da vida e do mundo.

A forma como entraste na RFM também não foi propriamente normal.

Entrei na RFM depois de muitas tentativas. Estamos a falar de 1992. Na altura, o que fazíamos era enviar maquetas áudio em cassete na esperança de que gostassem da nossa voz. Mandei muitas, mandei currículos, nunca ninguém me disse nada. Até que a RFM faz um concurso em que o prémio era uma viagem à Holanda para assistir a um concerto da Celine Dion. O que o ouvinte tinha que fazer era simular uma reportagem. Eu trabalhava no Rádio Clube Português e pedi ao técnico para me ajudar. Ele achava que eu era fã da Celine Dion, mas o que eu queria mesmo era chamar a atenção. Ganhei o passatempo e viajei com o António Jorge, que agora é meu colega na Renascença. Ele deve ter ficado sensibilizado com o facto de eu ter este sonho de entrar na RFM e falou de mim ao director, o Pedro Tojal. Umas semanas depois, o Pedro Tojal ligou-me e convidou-me para uma entrevista.

Com o Café da Manhã a liderança foi quase instantânea. Foi o momento definidor da tua carreira?

Foi. Definidor também do meu estilo de comunicação. Pelas características do programa que é, temos que improvisar, tudo acontece no momento. A rádio funciona quando as pessoas são autênticas. Eu achava que para ser uma comunicadora brilhante tinha que ter tudo escrito e preparado. E, de repente, percebi que isso era impossível num programa da manhã. A preparação que um programa da manhã exige é que esteja actualizada, que faça o meu trabalho de casa, muito dele longe da rádio. O resto virá por si mesmo: se nos soltarmos, se formos autênticos, se trouxermos algo de nós para a antena, é isso que cria a ligação. Foi isso que o Café da Manhã me ensinou.

Mais tarde, começaste a apresentar o Rocha no Ar, que também se tornou líder.

Ao entrevistar mais de mil pessoas, aprendi que é possível falar com qualquer pessoa sobre qualquer tema e manter uma conversa interessante.

Há espaço para novos protagonistas na rádio?

Qualquer pessoa tem uma história. É isso o que me define hoje em dia, todo este improviso e autenticidade que o Café da Manhã me deu, mas também todo esse poder de adaptação de poder trazer o melhor do outro ao de cima. Fazer da pessoa que está na minha frente, que pode ser a pessoa mais humilde do mundo, a estrela da manhã. Podemos falar desta garrafa de água durante 10 minutos e tornar esta conversa interessante. Não há assuntos chatos.