Portugal e Espanha entraram ao mesmo tempo na então CEE, hoje UE, no início de 1986. A partir daí, as relações entre os dois países aumentaram muitíssimo. Também a partir dessa altura despareceram os receios de que Espanha quisesse anexar Portugal.
Essa anexação tinha sido defendida pelo rei espanhol Afonso XIII, nos anos que precederam a Grande Guerra, a I guerra mundial (1914-1918). Mas o rei não teve apoio para esse seu projeto, nem do seu governo nem dos seus aliados.
No decorrer da II guerra mundial (1939-1945) houve momentos em que a anexação de Portugal por Espanha se tornou uma possibilidade, felizmente nunca concretizada.
Com ambos os países na CEE, o relacionamento político entre os governos de Portugal e de Espanha tornou-se francamente bom, mesmo quando os primeiros ministros dos dois países pertenciam a diferentes famílias políticas, o que neste momento nem é o caso.
Quando se realizam as periódicas reuniões entre governantes de Portugal e Espanha esse bom relacionamento é sempre destacado e louvado. No entanto, os espanhóis têm, por vezes, atitudes que levam a duvidar se as boas relações são tão sólidas como se diz.
Basicamente, as autoridades de Espanha “esquecem-se” com frequência de Portugal. O mais recente caso aconteceu na quinta-feira passada, quando a ministra espanhola do Turismo anunciou aos jornalistas que as fronteiras espanholas, com França e Portugal, seriam reabertas a 22 do corrente mês de junho.
O governo português ficou surpreendido e chocado, exigindo explicações de Madrid. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembrou que quem decide sobre a reabertura da fronteira portuguesa “é naturalmente Portugal”. E salientou que o anúncio da ministra espanhola do Turismo não se inscreve no quadro de cooperação estreita entre os dois Governos para a gestão da fronteira comum.
A cooperação luso-espanhola em matéria de fronteiras até tinha corrido bem. Só que, disse o ministro Augusto Santos Silva, “infelizmente sucedem-se declarações de ministros sectoriais do Governo de Espanha que não se inscrevem nesse quadro de coordenação estreita”.
O MNE português lembrou que já antes “Espanha tinha tomado unilateralmente uma decisão de impor quarentena a pessoas que entrassem em Espanha e comunicou que essa quarentena iria até ao fim do mês de junho”.
O caso da data da abertura da fronteira entre os dois países ficou resolvido na tarde de quinta feira. Uma “nota de esclarecimento” do Governo espanhol retificou as declarações da ministra e explicou que “a mobilidade internacional segura terá lugar a partir de 1 de julho”.
O problema é que estes não são casos isolados. Lembremos a central nuclear de Almaraz, no rio Tejo e perto de fronteira portuguesa. O Governo português só foi informado que a vida útil dessa central seria prolongada depois, e não antes, de as autoridades espanholas terem tomado essa decisão. Ou o secretismo espanhol quanto à regulação das descargas das barragens no rio Tejo em Espanha, que durou demasiadas semanas.
Começam a ser esquecimentos e atrasos de informação a mais.