Um ano de Governo. Tanto tempo e tão pouco
26-10-2020 - 07:31
 • Eunice Lourenço

O Governo Costa II tomou posse há um ano. Na véspera do aniversário ficou ainda mais claro que não tem condições para durar uma legislatura.

Há um ano, o Governo Costa II tomava posse com o Presidente da República a fazer desejos de que fosse melhor que o primeiro e o primeiro.ministro a anunciar a meta de 750 euros de salário mínimo para 2023 e promessas de justiça social e combate às desigualdades.

Passado um ano não há festa e, não fosse o mundo nos ter ensinado nos últimos meses a não dar nada como certo, seria possível dizer quase sem dúvidas que daqui a um ano estamos da falar de eleições legislativas por não haver forma de fazer passar o Orçamento do Estado para 2022. E só não estamos já nesse ponto porque não seria possível resolver de forma rápida uma crise política, devido ao calendário eleitoral para a Presidência da República.

Este domingo, foi bem a imagem do estado em que está o Governo e o PS. E também o resto do quadro político. António Costa teve duas aparentes vitórias – o PS ficou em primeiro lugar nos Açores e o Orçamento do Estado está praticamente viabilizado na generalidade -, mas cada uma delas mostra a fragilidade e a incoerência deste momento socialista.

A vitória nos Açores foi, no fundo uma derrota: os socialistas perderam a maioria absoluta, a direita tem mais deputados que a esquerda e Costa lembrou que “matematicamente, o PS ficou em primeiro e o PSD em segundo” como se um cenário como esse, mas com posições invertidas, o tivesse impedido de formar governo em 2015.

A viabilização do Orçamento é feita com a perda total de apoio dos seus parceiros de 2015. O Bloco de Esquerda anunciou que vai votar contra. E o PCP abstém-se, mas já votou contra o orçamento suplementar. Resta a António Costa uma negociação quase à Limiano, com o PEV e as deputadas não inscritas. Neste momento só precisa de duas abstenções ou de mais um voto a favor.

Longe vão os acordos que garantiram a legislatura completa da geringonça. E longe vai o discurso de António Costa no debate do Estado da Nação deste ano em que tentou relançar a ideia de um acordo à esquerda para o resto da legislatura. Aquilo que não quis há um ano, voltou a querer em julho. E a crise com que ameaçou em agosto, agora garante que não vai provocar.

A pandemia da Covid-19 mudou as vidas, está a mudar o mundo e parece deturpar as nossas noções de tempo. Os últimos oito meses tanto parecem uma eternidade, como a normalidade parece que ainda existia anteontem. E assim também parece baralhado o tempo deste Governo: já tem um ano, ainda só tem um ano e parece só ter mais um ano.