Basta não querer?
12-07-2024 - 11:59
 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo

Edição em que se fala da entrevista de Vítor Gonçalves à Procuradora-Geral da República, da barragem à Extrema-Direita em França, da entrevista de Biden à ABC e da Cimeira da NATO que terminou esta quinta-feira em Washington.

Grande furo da RTP com a excelente entrevista de Vítor Gonçalves à Procuradora-Geral da República, num momento de crispação em torno do Ministério Público e, coincidência feliz, quando todos os partidos com assento na Assembleia da República, com a abstenção do Chega, aprovaram a audição de Lucília Gago no Parlamento. A Procuradora-Geral diz que “há uma campanha orquestrada contra o MP”. Há? Quem a faz? O Presidente da República, a Ministra da Justiça, o PS e os amigos de António Costa, os 50 signatários (agora 100) do Manifesto? E contra Joana Marques Vidal, que faleceu esta semana incensada por todos, não houve uma campanha orquestrada? Ou contra Souto Moura? Tornou-se ainda mais importante ouvir a PGR no Parlamento. Por que razão é que o Parlamento não a ouviu durante 6 anos?

A barragem à extrema-direita em França funcionou. As sucessivas manchetes dos jornais franceses apelando a uma “Frente Republicana” contra Le Pen parece terem contribuído para o resultado de domingo: vitória da Nova Frente Popular, com o RN de Le Pen remetido para terceiro lugar. Foram os media a ganhar as eleições? Não fosse o entendimento de desistência recíproca entre o Ensemble de Macron e a Frente Popular de Mélenchon, o resultado poderia ter sido diferente.

Miguel Esteves Cardoso defendia no domingo da eleição francesa, um ponto muito interessante: “Em França não se quer Le Pen. No Reino Unido não se queriam os conservadores”. Foram eleições da negatividade. “Não chega não querer”, escreve MEC no título. “Nos EUA não se quer o Trump”, acrescenta. No caso americano, poderá não bastar não querer.

“Retirar-me-ei se o Senhor Todo-Poderoso me pedir… E não o fará”, disse Biden na entrevista à ABC, reproduzida na primeira página do La Vanguardia. Nessa entrevista, há uma pergunta perturbadora, no mínimo, transcrita pelas televisões portuguesas: “aceita fazer exames neurológicos e cognitivos e partilhar o resultado com os americanos?” A resposta revela Biden, rápido e com grande serenidade: “faço um teste cognitivo todos os dias, na minha função”. Mas a realidade parece ser outra: Trump tem alargado a vantagem sobre Biden nas sondagens e continua a liderar os Estados que contam para a decisão final; Não cessam os apelos para que Biden desista. Foram os casos de Nancy Pelosi, com grande peso no partido Democrata, e de George Clooney que terá confidenciado que sentiu o presidente muito debilitado no encontro recente que manteve com ele.

Esta quinta-feira (11 de julho) terminou em Washington a Cimeira da NATO que, na celebração dos seus 75 anos, produziu uma declaração final que pode dizer-se, no mínimo, consensual sobre a estratégia da Aliança Atlântica. Também esta quinta-feira, o Governo português completou 100 dias em funções, com a conclusão de um acordo com os guardas prisionais, depois das polícias e dos professores. A três meses da apresentação do Orçamento do Estado na Assembleia da República, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos têm discutido o tema, através dos Media. A importância do documento não mereceria outro recato?

Em suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, a decisão da Assembleia da República de trasladar Eça de Queiroz para o Panteão não poderá abrir um conflito insanável com os seguidores de Camilo? A CNE entende que os municípios não têm competência para mandar retirar a propaganda eleitoral e não há lei que regule o tema. Ficaremos à mercê de que os partidos se lembrem de fazer a despesa de os mandar retirar? A Global Media, embora tenha desaparecido da agenda mediática, é uma sucessão exuberante de mistérios. A ERC tem muito que trabalhar para desvendar os enigmas da Global Media. Há famílias há três semanas a tentar inscrever os filhos na escola. O que é que se passa com o sistema para as matrículas dos miúdos do 2º ao 5º ano?

Uma nota pessoal de Rui Pêgo:

Armando Carvalhêda partiu esta terça-feira, 9, aos 73 anos. Sempre que parte alguém da rádio, a imensa tristeza que nos invade não nos abala a convicção de que por cada um dos nós que cai, erguer-se-ão outros, porque quem cai desbravou caminho, criou as condições para o futuro de cada nova geração.

O Armando viveu uma vida inteira dedicada à rádio, a sua grande paixão. Conhecedor da música portuguesa e dos músicos portugueses, produziu um trabalho sem paralelo na divulgação da música popular, sem nunca esconder a memória das coisas, e na explicação do património da nossa música tradicional. Levou ao “palco da rádio”, como ele dizia sobre o Viva Música (Antena 1), várias gerações de músicos, durante 25 anos.

Um chato, às vezes. Difícil, muitas vezes. Sempre educado, sério na defesa das suas convicções. Sempre leal. E conhecedor da arte. Que é o que conta. Descansa, meu amigo. Um dia destes, voltamo-nos a ver.