​Escândalo em Malta
06-12-2019 - 06:55

O Estado de direito não é apenas ameaçado pelas chamadas “democracias iliberais”, mas também pelas práticas mafiosas e de branqueamento de capitais que minam alguns Estados, como Malta.

Malta é um arquipélago no meio do mar Mediterrâneo, com menos de meio milhão de habitantes. É o mais pequeno Estado membro da União Europeia, na qual ingressou em 2004. Mas Malta não é um paraíso de tranquilidade turística, quando muito será um paraíso fiscal.

Em outubro de 2017 foi ali assassinada à bomba uma jornalista maltesa, Daphne Caruana Galizia, que investigava indícios de corrupção envolvendo altas esferas financeiras e políticas. Passados mais de dois anos sobre este crime, escandalosamente a investigação criminal ainda não terminou.

Estão presos três presumíveis assassinos profissionais, com ligações à máfia. Mas quem lhes encomendou o crime ainda não foi apurado com segurança.

Recentemente acumularam-se suspeitas sérias de envolvimento neste assassinato de um poderoso homem de negócios (que tentou, sem sucesso, fugir da ilha no seu iate) e também do próprio primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, e do seu chefe de gabinete. Aliás, os célebres “Panama papers” indicavam ter havido ligações entre o homem de negócios acima referido e este chefe de gabinete num caso de corrupção.

Vários ministros abandonaram o governo de Malta, perante o furioso clamor da opinião pública da ilha, onde se multiplicam as manifestações. Finalmente, o representante da Comissão Europeu em Malta solicitou há dois dias ao primeiro-ministro J. Muscat que se demitisse quanto antes.

Digo “finalmente” porque a UE em geral e a Comissão em particular foram várias vezes acusadas de passividade e silêncio sobre o assassinato da jornalista. Ora, como escreveu o “Le Monde” em editorial, valores como a liberdade de imprensa, a independência da justiça perante o poder político e o Estado de direito não são apenas ameaçados pelas chamadas “democracias iliberais”, mas também pelas práticas mafiosas e de branqueamento de capitais que minam alguns Estados, como Malta. Crimes cujo encobrimento terá levado ao assassinato de uma jornalista.

Esperemos que a Comissão presidida por Ursula von der Leyen seja implacável na denúncia de atentados intoleráveis à vida de jornalistas e às entorses ao Estado de direito de que este caso de Malta é um triste exemplo. E não só a Comissão, mas também o Parlamento Europeu e o Conselho. Recorda o “Le Monde” que nenhum Estado membro da UE levantou a voz sobre este escândalo. Não é bonito.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus