Rui Pinto no banco dos réus. "Nada do que fiz foi por dinheiro"
04-09-2020 - 11:31
 • Marta Grosso , Carla Caixinha , Liliana Monteiro (a acompanhar o julgamento)

Aos 31 anos, o alegado “hacker” português responde por um total de 90 crimes. O criador do Football Leaks tem estado em liberdade "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária. Veja as imagens do primeiro dia de julgamento.

A primeira sessão do julgamento abriu com uma declaração de cerca de três minutos de Rui Pinto, durante a qual explicou a sua atuação. “O meu trabalho como 'whistleblower' [denunciante] está terminado. Nada do que fiz por dinheiro.”

Disse estar no tribunal como arguido e testemunha protegida; que é denunciante e que se limitou a tornar pública informação, de forma inocente, em nome do interesse público.

Não se vê como um “hacker” (pirata informático). “Tornei pública muita informação que nunca seria conhecida. Fiquei chocado com o que vi, colaborei com várias autoridades estrangeiras e colaboro com as autoridades nacionais.”

Na sua breve declaração, que começou às 11h15, afirmou que foi com orgulho e não com vergonha que optou por fazer a denúncia de “graves atividades ilícitas”.

Nesta intervenção, referiu-se ainda aos sete meses em que esteve em prisão preventiva: “fui alvo de uma campanha de calúnia e difamação para desviar a opinião pública. Estive ano e meio preso. Foi um período difícil.”

Rui Pinto lamentou ter sido objeto de uma “campanha de calúnia e difamação”.

Se Rui Pinto é vilão ou herói ainda está por decidir. Mas há quem já tenha opinião formada e tenha manifestado o seu apoio ao alegado "hacker".

O julgamento de Rui Pinto, criador da plataforma Football Leaks, onde divulgou documentos confidenciais do mundo do futebol e alegados esquemas de evasão fiscal, começou pelas 10h45, mais de uma hora depois do previsto, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

A sessão começou rodeada de forte aparato policial – expresso num perímetro de segurança em torno das instalações e com a presença de unidades especiais da Polícia de Segurança Pública (PSP).

Por razões de segurança e por causa às regras sanitárias impostas pela pandemia de Covid-19 o número de jornalistas autorizados a entrar na sala é reduzido. Foi feita uma lista mediante a ordem de chegada, que ditará a entrada.

Apenas 12 profissionais de comunicação foram aceites dentro da sala e não poderão usar nem telemóvel nem computador. Os restantes assistem à sessão numa sala de um outro edifício do Campus de Justiça, em sistema de videoconferência e sujeitos às mesmas regras.

Foram estipuladas duas pausas de manhã e outras tantas de tarde, de forma a que os profissionais de comunicação social possam informar sobre o desenrolar do julgamento.

Ao início da manhã, dezenas de jornalistas concentraram-se junto ao tribunal para ver chegar os envolvidos no processo.

Os advogados que representam o criador do Football Leaks, Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon, não quiseram prestar declarações, tal como Aníbal Pinto, antigo advogado de Rui Pinto e agora arguido do processo (pronunciado pelo crime de extorsão, na forma tentada)

Só Tiago Rodrigues Bastos, advogado da sociedade PLMJ fez declarações. “Estou aqui pela lesão dos meus constituintes enquanto profissionais. O que está em causa é muito grave. Quando se pretende justificar essa violação com determinados interesses, estamos perdidos. É bom que tenhamos em vista que o que está aqui em causa é muito grave no ponto de vista da democracia”, afirmou.

Rui Pinto, de 31 anos, vai responder por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, por 14 de violação de correspondência e por seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e o seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.