​Beja. Um “círculo de silêncio” pelos migrantes e refugiados
29-05-2018 - 09:50
 • Rosário Silva

A capital do Baixo Alentejo, pela mão da Caritas local, é a primeira cidade portuguesa a integrar os Círculos de Silêncio, uma iniciativa que nasceu em França.

As Portas de Mértola são o local escolhido. O encontro, na cidade de Beja, está marcado para esta quarta-feira, dia 30, às 18 horas. Faz-se de pessoas, preocupadas com pessoas, e de silêncio, a “arma” de um protesto que quer ser pacífico, tocante e, em simultâneo, sacuda consciências.

A iniciativa parte da Caritas diocesana, mas recolhe o “abraço” da Câmara Municipal, Rede Social, Núcleo de Beja da Rede Europeia Anti-Pobreza, Santa Casa da Misericórdia e Associação para Apoio à Integração dos Imigrantes de Beja.

É o primeiro Círculo de Silêncio, em Beja e em Portugal, com o tema da campanha da Cáritas “Partilhar a Viagem”, de resto, apadrinhada pelo Papa Francisco. O objetivo passa por “promover a cultura do encontro nas comunidades onde partem ou chegam migrantes e refugiados, ou naquelas onde passam ou escolhem para fazer a sua casa, para trabalhar em prol de uma vida melhor”.

À Renascença, a instituição revela que os Círculos de Silêncio começaram em 2007, em Toulouse, por iniciativa dos irmãos franciscanos, com o propósito de “denunciar a política de migração da União Europeia que bloqueou um imigrante indocumentado em centros de detenção administrativa”.

A este primeiro “grito silencioso” de protesto, seguiram-se muitos outros, alargados a dezenas de cidades de vários países da Europa.

Os Círculos de Silêncio são, nada mais nada menos, do que “um movimento de cidadãos e de organizações que consideram que a situação em que muitas pessoas vivem é extremamente precária”, explica a Caritas bejense, apelando à consciência dos que fazem e aplicam as leis, “para concretizar uma política que respeite a dignidade do ser humano”.

Denunciar publicamente injustiças e individualizá-las através do silêncio, é o que se pretende com a iniciativa que atenta de maneira particular a promoção da “transformação social e pessoal de cada um”.

Imigrantes ilegais “explorados” no Alentejo

Segundo o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo do Serviço de estrangeiros e Fronteiras (SEF), Portugal acolhe cerca de 400.000 imigrantes.

O baixo Alentejo concentra cerca de 7.600 Imigrantes, um número que alerta a Caritas de Beja, “pode aumentar significativamente se tivermos em conta os milhares de imigrantes que para trabalhar na agricultura em virtude do investimento de Alqueva se encontram ilegais”.

A instituição acrescenta que “o ano passado e nesta situação”, passaram pelos campos da região “cerca de dez mil trabalhadores imigrantes”, mão-de-obra ilegal proveniente “da Ásia, da Europa de Leste e de África”.

A iniciativa de Beja pretende alertar e combater esta realidade. Através deste “gesto de silêncio”, é exigido "respeito pelos direitos e pela dignidade dos imigrantes", acrescenta, em jeito de apelo à participação da sociedade, a Caritas diocesana de Beja.