Os limites da defesa europeia
01-10-2021 - 06:08

A França celebrou com a Grécia um acordo de defesa. Macron teve o cuidado de dizer que este acordo não é uma alternativa à NATO, mas uma forma de assumir a responsabilidade do pilar europeu dentro da NATO.

Na terça-feira passada, a França e a Grécia assinaram um acordo de defesa. O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou a venda à Grécia de navios de guerra no valor de três mil milhões de euros. Do acordo consta uma cláusula de assistência de defesa mútua. Dias depois, a França vendeu à República Checa equipamento de artilharia.

Estas iniciativas surgem na sequência de a França ter sido ignorada no acordo entre os EUA, a Austrália e o Reino Unido, onde se prevê o fornecimento à Austrália de submarinos americanos movidos a energia nuclear. A França perdeu, assim, um acordo milionário de venda de submarinos tradicionais à Austrália. A desconsideração sofrida pela França levou a que neste país surgissem vozes apelando a uma defesa europeia, autónoma dos EUA.

Em 1966, o então Presidente francês De Gaulle retirou o seu país do comando militar da NATO, ao qual só 30 anos depois a França regressou. De Gaulle era um aliado firme dos EUA, mas valorizava muito a soberania nacional francesa.

Agora, Macron sabe que a segurança dos europeus continua dependente da força militar americana. E sabe, também, que as intervenções militares francesas contra o terrorismo islâmico em África, no Sahel, apenas são possíveis com o apoio logístico dos EUA, por exemplo no abastecimento de combustível aos aviões franceses; e também no fornecimento de informações confidenciais pelos EUA, boa parte das quais obtida por “drones” americanos.

Por outro lado, Macron não ignora que os países da UE situados a Leste prezam acima de tudo a segurança que lhes dá a proteção militar americana. Recorde-se, ainda, que Washington mantém na Alemanha uma significativa presença militar.

Por isso, Macron teve o cuidado de dizer que o acordo de defesa com a Grécia não é uma alternativa à NATO, mas uma forma de assumir a responsabilidade do pilar europeu dentro da NATO. Em recente conversa telefónica com Biden, este assegurou ser isso que Washington pretende quanto à defesa europeia.

Compreendem-se, assim, os limites de uma “defesa europeia”. O que não impede Paris de exortar os seus parceiros europeus a mais rapidamente atingirem a meta de 2% do PIB nos seus gastos militares. Mas uma defesa europeia com real autonomia estratégica iria exigir um volume financeiro elevadíssimo, que os europeus estão longe de aceitar pagar.

Já seria excelente que os países membros da UE harmonizassem as características dos respetivos equipamentos militares, evitando duplicações e favorecendo uma indústria europeia de defesa.

Mas advogar uma defesa europeia autónoma e desligada dos EUA é mera fantasia, na qual Macron não cai.