A três semanas das eleições presidenciais, o Brasil vive um ambiente tenso, muito pesado, carregado de ódio. No dia em que se assinalaram os 200 anos da independência do Brasil, o país foi engolido por comícios, e insultos de Jair Bolsonaro a Lula da Silva, “o quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição. Esse tipo de gente tem de ser extirpado na vida pública”, disse Bolsonaro no carro elétrico em Brasília, momentos depois de terminado o desfile na esplanada dos ministérios.
Mas não são apenas as palavras. Bolsonaro usurpou as cores da bandeira, o verde e o amarelo, e por isso quem assim se veste é Bolsonarista, todos os outros tentam usar cores neutras.
Outro exemplo da tensão que se vive no país: no dia do desfile, Marcelo Rebelo de Sousa falou com os jornalistas no Hotel onde estava hospedado. Um grupo de apoiantes de Bolsonaro chegou, entretanto. Aplaudiu o Presidente e sugeriu que os jornalistas os entrevistassem. Como isso não aconteceu, começaram a gritar “comunistas”.
No desfile do 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios, que todos por aqui sabiam que ia acabar num comício de campanha de Bolsonaro, escutaram-se gritos de ordem contra Lula da Silva por parte dos milhares de apoiantes, “Lula ladrão, o teu lugar é na prisão”. E os jornalistas não são exceção. Uma das palavras de ordem é “Globo Lixo”, contra os profissionais da Rede Globo. Frases que Marcelo disse aos jornalistas portugueses não ter ouvido.
Na tribuna de honra, o candidato Bolsonaro tinha de um lado o empresário Luciano Hang, que está a ser investigado pela justiça, e do outro Marcelo Rebelo de Sousa.
O facto não passou despercebido. Esta quinta-feira o jornal O Globo questionava: “Resta saber por que Rebelo de Sousa, chamado de ‘Professor’ pelos portugueses, se prestou ao embaraço de ser esnobado (menosprezado) de novo por Bolsonaro”.
E mais, a jornalista estranha “que o experiente Marcelo Rebelo de Sousa, no segundo mandato como Presidente de Portugal, não tenha previsto que seria novamente alvo de constrangimento por parte de seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro”.
E porque todos já sabiam o que ia acontecer, os presidentes do congresso, do Senado e do Supremo Tribunal Federal faltaram ao desfile em Brasília. Mas Marcelo esteve na primeira fila. Após o desfile, o editorial do jornal O Globo pedia mesmo a intervenção do Tribunal Superior Eleitoral para investigar violações em atos bolsonaristas.
O Presidente português justificou dizendo que era o “que faltava Portugal falhar as comemorações dos 200 anos da independência” e acrescentou que “o que fica para a História é que Portugal esteve presente num momento histórico”. Marcelo disse mesmo que se sentia confortável.
Mas o Presidente português, que no encontro com Bolsonaro lhe contou a história de D. Pedro, não esquece o império. Marcelo Rebelo de Sousa falou da independência do Brasil como “motivo de orgulho para Portugal” e elogiou a opção de incluir no desfile “as bandeiras que desde o tempo em que o Brasil integrava o império português”.
Ao longo desta viagem Marcelo nunca quis falar sobre as eleições presidenciais brasileiras, mas acabou por entrar na campanha. E já avisou que vai estar na posse do novo Presidente brasileiro em janeiro do próximo ano.