Rybolovlev vs. Abramovich. O que distingue os donos russos de Mónaco e Chelsea?
11-03-2022 - 08:44
 • Inês Braga Sampaio

Dois oligarcas, um com ligações a Vladimir Putin e o outro forçado a vender ações de uma empresa a aliados do Presidente da Rússia. Descubra as diferenças entre os donos de Chelsea, que viu os seus bens congelados pelo Reino Unido, e do Mónaco, que tem saído "ileso" da guerra na Ucrânia.

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O dono do Chelsea, Roman Abramovich, viu os seus bens, incluindo o clube inglês, ser todos congelados pelo Governo britânico, no âmbito das sanções a oligarcas russos, a propósito da guerra na Ucrânia. No entanto, mais a sul, o dono do Mónaco, o também russo Dmitry Rybolovlev, continua a sair ileso de cada nova leva de sanções. O que distingue os dois milionários?

Para começar, é preciso explicar o que levou às sanções a Abramovich, que desde o ano passado tem passaporte português ao abrigo da lei de naturalização de descendentes de judeus sefarditas. O dono do Chelsea, que até pôs o clube à venda poucos dias depois da invasão da Rússia à Ucrânia, tem ligações à Gazprom, a maior exportadora mundial de gás natural, cuja maioria do capital social é detida pelo Estado russo, e ao regime de Vladimir Putin.

A sanção ao oligarca é justificada, pelo Reino Unido, com a relação próxima com Putin ao longo de décadas, envolvendo tratamento preferencial, e com benefícios fiscais, como isenção de impostos para as suas empresas e compra e venda de ações a taxas de juro favoráveis.

A lei portuguesa não permite retirar nacionalidade a Roman Abramovich por razões políticas, esclarece o Ministério da Justiça em resposta à Renascença.

As sanções europeias na sequência da guerra na Ucrânia também não têm implicações no caso que está a ser ainda investigado, relacionado com o processo de naturalização, refere o Governo.

As sanções do Reino Unido ao oligarca russo, que também tem nacionalidade portuguesa, não se aplicam em Portugal, adianta o gabinete da ministra Francisca Van Dunem.

O caso do dono do Mónaco é diferente. Aliás, desde 2010, quando deixou a Rússia, que Dmitry Rybolovlev, que também possui passaporte cipriota, tem procurado distanciar-se do regime de Vladimir Putin.

Foi nesse ano que Rybolovlev foi forçado a vender a sua parte maioritária das ações da empresa Uralkali, produtora internacional de fertilizante, a conhecimentos próximos de Putin. Um ano depois, em 2011, comprou o Mónaco, que na altura ainda se encontrava na segunda divisão francesa, e tornou-se cidadão do Principado.

Em 2013, um porta-voz do Governo russo revelou ao jornal "The New York Times" que Rybolovlev "não é muito bem recebido na Rússia". Tanto assim que, em 2006, foi abertamente criticado pelo Kremlin. O dono do Mónaco não é, portanto, considerado um aliado próximo de Putin.

Em 2014, o dono do Mónaco perdeu 614 milhões de euros no divórcio - já depois de recurso -, considerado um dos mais caros da história.

Esta semana, o Mónaco e Rybolovlev anunciaram a doação de fundos para a Cruz Vermelha Monegasca, "de forma a ajudar as pessoas inocentes da Ucrânia que sofrem com o conflito armado".

"É absolutamente crucial apoiar aqueles que mais estão a sofrer. Por isso, o Mónaco, o Cercle de Brugge e eu, pessoalmente, assim como várias empresas em que o Fundo Familiar Rybolovlev está investido, decidimos fazer donativos para fornecer apoio humanitário", disse o oligarca russo, em declarações reproduzidas no site oficial do Mónaco, o adversário do Sporting de Braga nos oitavos de final da Liga Europa.

Para já, Rybolovlev não se encontra na lista de oligarcas russos sancionados pela União Europeia (UE) e não deverá ter de abrir mão dos 66,6% do capital social do Mónaco. Além disso, o seu superiate, ANNA, continua calmamente ancorado nas águas de São Vicente e Grenadinas, ao contrário das embarcações de vários outros magnatas russos.

Contactada pela AFP, a Liga francesa confirmou que não tomará ação contra jogadores russos ou bielorrussos, nem contra o Mónaco.

Porém, a situação pode vir a mudar. Segundo o "L'Équipe", o Governo francês poderá decidir impedir que oligarcas russos intervenham em empresas francesas. Medida que abrangeria o Mónaco, que tem seguido as medidas adotadas pela União Europeia durante a guerra na Ucrânia.

O nome de Dmitry Rybolovlev foi incluído no "Decreto de Responsabilização de Putin", um projeto-lei de dezembro de 2021 elaborado na Casa dos Representantes dos Estados Unidos da América, entre vários nomes, incluindo o do próprio Presidente da Rússia.

Por outro lado, não se encontra entre a lista de oito magnatas russos visados pela última leva de sanções da administração Biden, divulgada na passada quinta-feira.

Em conclusão, o que distingue, acima de tudo, Roman Abramovich de Dmitry Rybolovlev é a relação com Vladimir Putin. O dono do Chelsea, que até interveio nas negociações com a Ucrânia, é conhecido por ter ligações próximas com o Presidente da Rússia, ao passo que o dono do Mónaco não deixou grandes amigos entre a elite daquele país.

[Notícia atualizada às 14h01, com informação sobre a última lista de sanções dos EUA e o "Decreto de Responsabilização de Putin"]