“Estamos a assistir em Portugal a uma espécie de suicídio em câmara lenta”
20-11-2023 - 10:37
 • André Rodrigues , Olímpia Mairos

Nos últimos 50 anos, o país perdeu mais de um milhão de crianças e jovens. Na visão do comentador da Renascença, na base deste retrato demográfico estão razões económicas e culturais.

“O que nós estamos a assistir em Portugal, neste século, é uma espécie de suicídio em câmara lenta do país”. É desta forma que Henrique Raposo comenta o mais recente estudo da Pordata que conclui que Portugal é o segundo país mais envelhecido da Europa, a seguir a Itália.

Nos últimos 50 anos, o país perdeu mais de um milhão de crianças e jovens. E para o comentador d’As Três da Manhã isto tem a ver com razões económicas e culturais.

“Este quartel de século está a ser bastante negativo em termos económicos. Nós somos uma geração que tem vivido em permanente crise, crise atrás de crise. Isso cria, obviamente, dificuldades para a formação de família. As pessoas, neste momento, nem sequer conseguem arranjar uma casa”, observa.

Na visão do comentador, o país deu um salto na segunda metade do século XX, de um país muito pobre passou para um país de classe média europeia, “mas não estamos a dar as condições para que as pessoas tenham filhos, enquanto projeto de vida”.

À questão económica, que impede as famílias de se fixarem e crescerem, soma-se - segundo Raposo - uma questão cultural.

“Tem a ver com machismo/feminismo. É um problema cultural nas famílias portuguesas, sobretudo nos homens, enquanto os homens não assumirem que têm que partilhar dentro de casa tarefas domésticas e, sobretudo, o sacrifício da carreira profissional para ficar em casa e cuidar de crianças, enquanto isso não for feito, essa revolução cultural dos homens, nós vamos ter famílias fragmentadas, divórcios, famílias que não têm filhos”, completa.