Cavaco quebra o silêncio. Legalizar a eutanásia é "a decisão mais grave" para a sociedade
25-05-2018 - 17:00
 • Eunice Lourenço , Inês Rocha

O antigo Presidente declara-se contra a legalização da eutanásia e avisa que não irá votar em partidos que a apoiem.

O ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, faz ouvir a sua voz contra a eutanásia. Até agora remetido ao silêncio sobre questões políticas, Cavaco Silva fez uma declaração à Renascença em que considera que a legalização da eutanásia "é a decisão mais grave" que os deputados podem tomar.

A gravidade é tal que o ex-Presidente diz mesmo que não irá votar nas legislativas do próximo ano em partidos que venham a apoiar a legalização e que manifestará isso mesmo àqueles que lhe são próximos.

“Como cidadão, sem responsabilidades políticas, o que posso fazer para manifestar a minha discordância é fazer uso do meu direito ao voto contra aquelas que votarem a favor da eutanásia. Nas eleições legislativas de 2019 não votar nos partidos que apoiarem a legalização da eutanásia e procurar explicar àqueles que me são próximos para fazer a mesma coisa”, diz o ex-líder do PSD.

A legalização da eutanásia será discutida no Parlamento na próxima terça-feira. Vão estar em debate projetos do Bloco de Esquerda, do PAN, dos Verdes e do PS.

O PCP e o CDS vão votar contra. O PS e o PSD dão liberdade de voto, pelo que não é possível prever o resultado da votação que será nominal, ou seja, cada deputado será chamado pelo nome para dizer qual é o seu voto. No PSD, apesar de o atual líder, Rui Rio, ser favorável (e até ter assinado o manifesto que está na origem deste processo legislativo), a maioria dos deputados irá votar contra.

Para Cavaco Silva, esta será “uma votação com tais consequências para a sociedade portuguesa” que ele, como eleitor, e todos os cidadãos não podem “esquecer o que os deputados fizerem agora”.

O antigo chefe de Estado questiona como é que os deputados podem aprovar a legalização da eutanásia quando não receberam mandato para isso nas legislativas de 2015.

“O que está em causa é a vida humana, o bem mais precioso de cada individuo”, diz o antigo Presidente, questionando: “Como podem os deputados ignorar o parecer dos profissionais de saúde, os enfermeiros e os médicos que lidam com a vida e com a morte? Como podem ignorar o parecer do conselho nacional de ética para as ciências da vida? Como podem os deputados ignorar a posição das várias religiões em que os portugueses se reveem e que se juntaram para condenar a legalização da eutanásia?”

Estas, diz Cavaco, “são questões que os deputados não podem deixar de colocar à sua consciência”, mas são também perguntas que cada eleitor deve fazer.

“Cada português deve pensar bem o que significa uma pessoa, um médico, ser autorizado por lei da Assembleia da República a matar outra pessoa. Se tal acontecer, a nossa sociedade rompe uma barreira e dá um salto no desconhecido muitíssimo perigoso”, avisa o antigo Presidente, que rompe o seu habitual silêncio.

“Estando em causa a defesa do primado da vida humana, entendi que devia fazer uso das duas armas que me restam como cidadão: a minha voz, não ficando calado, e o meu direito de voto na escolha dos deputados nas próximas eleições legislativas”, justifica Aníbal Cavaco Silva.