Melhor barbeiro do país? É uma mulher e trabalha em Viseu
18-01-2020 - 09:20
 • Liliana Carona

​Sabe quem é o melhor barbeiro do país? É uma mulher, ucraniana, mas a residir em Portugal há quase duas décadas. Trabalha em Viseu na barbearia do Sr. Osvaldo, que lhe deu emprego há 15 anos. Hoje os clientes fazem fila.

Na Avenida Emídio Navarro, junto ao rio Pavia, em Viseu, a Barbearia Osvaldo passa quase despercebida, não fosse o rodopio de gente, sempre a entrar e a sair do local de trabalho de Halyna Buchin Dyakun, 41 anos, natural de Lviv, na Ucrânia. Em 2019, venceu o maior evento nacional de barbeiros, o Challenge CACP BarberShop e faz parte da seleção, com 11 elementos, que vai representar Portugal, no OMC Hairworld 2020 - World Cup, em Paris.

Halyna reside em Viseu desde o campeonato europeu de futebol, o Euro2004. “O meu marido era jornalista, diretor de um jornal e sabíamos que havia o Euro 2004 e que ia haver muito trabalho, decidimos experimentar vida melhor”, no entanto, sublinha que “chegar onde chegou, custou muito, mas já passou”.

Quando chegaram a Viseu, o casal começou por trabalhar nas vindimas e na apanha da maçã e viviam numa roulotte. Passados quase 20 anos, Halyna cumpriu o sonho de ser barbeira e o marido, jornalista, é calceteiro. Têm um filho de 17 anos, que destaca Halyna, “tem o cabelo comprido e não quer cortar”.

Desenvolta na arte de barbear à navalha, Halyna garante já não ter receios nem segredos. São 15 anos a trabalhar na barbearia do Sr. Osvaldo. Aliás, foi Osvaldo Gomes, 62 anos, barbeiro desde que se lembra de ser gente, que reparou no talento de Halyna Buchin Dyakun. “Ela nunca acreditou, eu sempre lhe disse que ia longe, dizia que eu era tolo”, sorri, perante o sucesso da funcionária que explica o que está na moda. “Estou agora a fazer "dégradé", um "fade" e a barba à antiga, à tradicional, são poucos os que fazem, mas eu faço à navalha e fica mais perfeito”.

O primeiro trabalho de Halyna foi num cabeleireiro de mulher, o salão da mãe, na Ucrânia, de quem herdou o dom e foi aí que começou a aprender. Hoje já não regressaria aos cortes femininos. “Mulher é mais chata. Homem está sempre tudo bem. Não trocava”, garante. Estudou dois anos na área e, em Viseu, trabalhou ainda num salão unissexo.

Hoje, na Barbearia Osvaldo nota que os homens estão mais vaidosos. “Há 15 anos os homens não eram assim. Agora vêm todas as semanas”, revela a barbeira, corroborada pelo cliente, Paulo Alexandre, 26 anos, que desde os 17 ali corta o cabelo. “É um hábito vir aqui, saio sempre satisfeito”.

Osvaldo confirma que apesar de haver cada vez mais concorrência, “trabalho não falta” e elogia o contributo da barbeira. “Desde que ela ganhou os prémios, houve mais gente a procurar-nos. É excelente o trabalho dela, adaptou-se bem, fez trabalhos muitos bons e ganhou. É preciso gostar-se, ser barbeiro só não chega. Veio uma fase em que os homens iam aos cabeleireiros de mulheres, mas as cabeleireiras não se adaptaram a estes novos cortes”, observa.

O ano de 2019 trouxe a Halyna Buchin Dyakun o reconhecimento em finais, onde foi a única mulher, entre homens. “Na primeira eliminatória fiquei em terceiro lugar, na segunda eliminatória fiquei em primeiro lugar e na terceira, que era a final, fiquei em primeiro lugar, no dia 31 de março de 2019, no Porto. Recebi um troféu, uma tesoura, uma máquina antiga de cortar cabelo e cadeira de barbeiro. Na final eram 20 concorrentes e eu a única mulher”, conta.

Para vencer os concursos, Halyna precisa de um modelo, que arranjou ali mesmo na barbearia, o cliente Jani Maurício, 31 anos. “Ela disse que precisava de um modelo, eu recusei, mas ela chateou-me tanto que aceitei e desde aí já fomos a vários campeonatos, um deles o mundial. Este ano Portugal ficou em segundo lugar em cabeças académicas, categoria de homens e este ano vamos outra vez”. A barbeira conquistou ainda o segundo lugar no Concurso Nacional da Arte em Cabelos (NNAC) - Portugal Nacional Cup 2019 Hair & Beauty - nas categorias "classic fade cut" e "low skin fade cut" na área da barbearia.

Agora, a dupla Halyna e Jani preparam a participação no Campeonato Ibérico, já no dia 2 de fevereiro e o Mundial lá para setembro. “Tenho sorte com o modelo. Ele tem muito bom cabelo e boa barba e se ele vai comigo este ano temos muitas hipóteses, se Deus quiser. Vamos trabalhar e fazer o melhor possível”, assume, ao mesmo tempo que Jani afirma não ter dúvidas de que “o trabalho dela é o melhor”.