As eleições britânicas e o futuro
14-12-2019 - 10:15

É muito difícil negociar com um parceiro fraco. Ora durante os próximos quatro anos o interlocutor britânico da UE será um líder forte, que não receará traições no seu próprio partido e disporá de uma confortável maioria parlamentar.

Parece paradoxal, mas não é, o alívio sentido por vários dirigentes europeus perante a vitória esmagadora de Boris Johnson, que levará à saída dos britânicos da UE no fim de janeiro. António Costa, por exemplo, manifestou publicamente esse alívio. Acabou uma incerteza, que paralisou, em grande parte, os esforços da UE para relançar a integração europeia sem o Reino Unido.

Passaram mais de três anos desde o referendo britânico que abriu a porta à saída do Reino Unido da UE. Seguiram-se penosas e frustrantes negociações para atingir um acordo de saída. A então primeira-ministra britânica, Theresa May, era sistematicamente torpedeada por membros do seu próprio partido conservador. A situação piorou quando May convocou eleições para aumentar a sua pequena maioria na Câmara dos Comuns – e afinal perdeu essa maioria.

É muito difícil negociar com um parceiro fraco. A partir do fim de janeiro próximo, a UE terá de negociar com Londres um acordo para definir as futuras relações entre as duas partes. Será uma negociação longa e complexa – certamente irá durar uma boa meia dúzia de anos, pelo menos.

Decerto que Boris Johnson não parece possuir uma grande estabilidade psicológica. Mas durante quatro anos, em princípio, o interlocutor britânico da UE será um líder forte, que não receará traições no seu próprio partido e disporá de uma confortável maioria parlamentar. É importante alcançar um acordo que mantenha laços próximos entre a UE e os britânicos, nomeadamente no campo de segurança e defesa.

Entretanto, o governo britânico irá defrontar-se com problemas que afetarão a unidade… do Reino Unido. A Escócia, cujo Partido Nacional Escocês alcançou um resultado excelente na quinta-feira passada, irá com certeza tentar um novo referendo sobre a sua independência. Como para tal necessita de uma autorização da Câmara dos Comuns, a grande maioria parlamentar conservadora irá retardar esse referendo. Mas, a médio prazo, é provável a futura independência da Escócia.

Na Irlanda do Norte (Ulster) os problemas serão mais imediatos. No referendo de 2016 a maioria votou, no Ulster, a favor da manutenção na UE. Ainda que não regressem os confrontos entre protestantes e católicos, a verdade é que o acordo de saída negociado por Boris Johnson não agrada a nenhuma força política pró-britânica do Ulster. Não é arriscado prever que, no Ulster, aumentem as pressões para uma integração na República da Irlanda, incluindo por parte de protestantes.

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