Geração Z e a saúde mental. "Temos tempos de espera de consultas que chegam aos nove meses"
06-04-2022 - 17:00
 • Beatriz Lopes

São jovens e querem viver depressa, resultados imediatos. Porquê? Porque YOLO: "só se vive uma vez". Mas há três obstáculos: ansiedade, stress e precariedade. Acabaram enleados numa pandemia que os fez “reclusos” por algum tempo e assistem agora a um conflito na Europa que, não sendo deles, lhe tomam as dores. Por tudo isso, são cada vez mais os jovens a procurar apoio psicológico – para gerir os traumas dos últimos dois anos. A Ordem dos Psicólogos alerta que “a tendência se tem vindo a agravar", mas o SNS continua sem dar respostas.

Marta começou a "querer estar sozinha" já a pandemia eclodira. Joana nem chegou a pedir baixa e despediu-se após um 'burnout'. Sara já recorreu à psicologia e à psicoterapia porque "a ansiedade estava a limitar o dia-a-dia", levando-a a tomar antidepressivos durante dois anos. Alfredo já sofria de depressão e ataques de pânico antes da pandemia e foi o ioga que lhe trouxe "uma coisa boa": pessoas.

No quarto episódio do Geração Z, ouvimos quatro histórias, quatro jovens que sentiram "desconforto em sociedade". Histórias que refletem o aumento de quadros psicopatolígicos de ansiedade e depressão, que têm surgido nos centros de saúde e hospitais numa altura em que "os tempos de espera para uma primeira consulta no Serviço Nacional de Saúde chegam aos seis, nove meses", alerta a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, Renata Benavente.

A psicóloga admite que a celeridade de uma primeira consulta pode fazer a diferença no acompanhamento destes jovens e lamenta que Portugal corra atrás do prejuízo: em vez de apostarmos na prevenção da saúde mental, continuamos a aumentar a fatura.

"Temos muitas pessoas que estão a beneficiar do subsídio de doença, estão de baixa, porque não estão em condições psicológicas para ir trabalhar, portanto há aqui uma sobrecarga do nosso sistema de Segurança Social. Isto para não falar dos gastos que temos no SNS com psicofármacos, que é de uma dimensão elevadíssima em Portugal. Há uma série de incongruências no sistema que são incompreensíveis", explica Renata Benavente.

Às famílias destes jovens, fica um apelo: "não desvalorizem" sinais que podem apontar para quadros clínicos de depressão e ansiedade, porque "todo o sofrimento é legítimo" e o estigma "não pode continuar a comprometer os pedidos de ajuda".