​A Turquia afasta-se do ocidente
16-07-2019 - 06:50

A Rússia está a fornecer mísseis à Turquia, país membro da NATO. Mas Trump não parece preocupado.

Desde a semana passada estão a chegar à Turquia mísseis comprados à Rússia. Parece, e é, algo estranho, sendo a Turquia membro da NATO e possuidora do segundo exército da Aliança, logo depois dos EUA, em número de efetivos. Trata-se de mais um sinal da viragem anti ocidental do presidente turco Erdogan.

Há dias Erdogan demitiu o governador do banco central turco, porque quer impor taxas de juro mais baixas. A independência dos bancos centrais na área da política monetária é, hoje, um princípio seguido em praticamente todas as democracias liberais.

Mas Erdogan nada tem de liberal. Veja-se a enorme e brutal repressão que se seguiu a uma gorada tentativa de golpe de Estado há três anos: cerca de 50 mil prisões (nomeadamente de jornalistas) e mais de 150 mil funcionários públicos despedidos. A repressão continua, apesar das críticas de países democráticos ocidentais.

Naturalmente que Putin ficou encantado por fornecer mísseis à Turquia e assim enfraquecer a NATO. Mais curiosa e preocupante é a posição dos EUA. Os militares americanos dizem que estes mísseis russos, largamente incompatíveis com o material da NATO, ameaçam a segurança da Aliança, complicando as suas operações, face a uma Rússia cada vez mais agressiva.

Mas Trump tem palavras conciliadoras para a Turquia, que ele considera ter sido maltratada pelo seu antecessor, Obama. Este opôs-se à venda à Turquia de mísseis americanos Patriot – e nada entusiasma mais Trump do que criticar Obama.

Veremos se o Congresso de Washington avança com sanções à Turquia. Existe ali um consenso bipartidário nesse sentido. Mas Trump gosta de Putin, como gostam muitos outros governantes autocráticos. Por isso deverá vetar sanções a esta estranha aquisição de mísseis. O mundo mudou. Razão tem Macron ao insistir na necessidade de uma defesa europeia.