Em Espanha, há mais porcos do que espanhóis
05-09-2018 - 06:22
 • André Rodrigues , José Luís Moreira (Sonorização)

Espanha tem 46,5 milhões de pessoas e 50 milhões de porcos.

Quando George Orwell publicou “O Triunfo dos Porcos”, em 1945, estaria porventura longe de imaginar que os ditos animais estivessem tão perto de superar a espécie humana. Não falamos de porcos amotinados que expulsam o dono da quinta para entregar o poder aos animais que, com o tempo, passam a viver tal e qual como os humanos que os oprimiam; falamos de números.

E em Espanha, os porcos já ganharam. De acordo com o ministério espanhol do Ambiente, pela primeira vez na história, a população suína atingiu um máximo histórico de 50 milhões de cabeças. Mais 3,5 milhões do que a população humana em Espanha.

Estima-se que cada um dos 46,5 milhões de espanhóis consumam uma média de 21 quilos de carne de porco por ano.

Aliás, desde 2013 que o número de porcos espanhóis aumentou 9 milhões e o setor produz 4 milhões de toneladas de carne por ano. Em 2017, o setor da carne suína afirmou-se como um dos grandes motores da economia espanhola com uma faturação da ordem dos 6 mil milhões de euros. Metade são provenientes de vendas ao exterior.

Só que este crescimento está a ter impactos diretos a nível ambiental: a criação de porcos é a quarta maior emissora de gases com efeito de estufa em Espanha, atrás dos transportes, da produção de eletricidade e da indústria.

Outro problema é o consumo de água: cada porco gasta 15 litros por dia, dez vezes mais do que a ingestão diária recomendada para um ser humano. Se multiplicarmos isso por 50 milhões de cabeças de gado suíno, concluímos que este setor gasta 750 milhões de litros de água por dia. Mais do que o consumo diário de Sevilha, Saragoça e Alicante juntas.

Além disso, tanto porco junto cria porcaria. As fezes animais já estão a contaminar os solos em várias regiões em Espanha, um país com 46,5 milhões de pessoas e 50 milhões de porcos. Ou seja, 1,07 porcos por habitante.