Há escolas onde salvar vidas faz parte do currículo
06-01-2016 - 14:03
 • Filipe d'Avillez

Alguns dos alunos do United World College, no País de Gales, treinam como nadadores-salvadores e um ex-aluno está actualmente na Ilha de Lesbos a ajudar a salvar vidas de refugiados com um barco construído no colégio.

Entre os universitários tornou-se já comum fazer-se uma experiência internacional e há mesmo cursos que o exigem. Mas para muitos alunos essa possibilidade apresenta-se já no final do secundário.

Os United World Colleges, fundados na década de 60 com o objectivo de promover uma cultura de diálogo e paz no mundo, são uma das organizações a que os alunos interessados podem recorrer. Com 15 colégios a funcionar em várias partes do globo, existem actualmente 14 vagas (11 das quais com bolsa total ou parcial) para candidatos portugueses que queiram fazer o 11º e o 12º fora de portas.

“O que distingue os UWC é, em grande parte, o modelo de selecção. As boas notas ajudam, mas não são o essencial. O que o painel de selecção de cada país procura são características que mostram que os candidatos possam vir a fazer uma diferença nas suas comunidades no futuro. A ideia, em linha com o pensamento do fundador, é que um futuro líder que tenha tido uma experiência internacional com pessoas de outros países estará mais apto a promover o entendimento e recusar a divisão e a guerra”, explica Mariana Arrobas, uma ex-aluna que já participou em vários painéis de selecção ao longo dos anos.

Nos colégios o currículo é exigente, seguindo o modelo do International Baccalaureate, mas não decorre só na sala de aula. O serviço comunitário é obrigatório e, nalguns colégios, de importância crucial para a região.

É o caso do Colégio do Atlântico, no País de Gales, onde os alunos podem optar por participar no programa de nadadores-salvadores. “Faz-se a formação e durante os dois anos em que lá estão os rapazes e raparigas trabalham mesmo no patrulhamento e resgate na dura costa galesa”, explica Mariana, que tomou essa opção e chegou mais tarde a trabalhar como nadadora-salvadora em Portugal.

Uma lancha para fazer a diferença

A experiência deixa marcas e para vários destes ex-alunos as imagens de refugiados a morrer no mar ao tentar chegar à Europa tornou-se insuportável. Uma ex-aluna de nacionalidade alemã voluntariou-se para trabalhar com os nadadores-salvadores gregos e ficou perturbada com a falta de equipamento, nomeadamente de uma lancha rápida. Pediu então ao colégio onde tinha feito a sua formação se havia alguma que pudesse vender. A resposta foi positiva e pediu-se apenas o preço de custo.

A lancha “red mist” foi construída por alunos do UWC e comprada por uma rede de ex-alunos que tratou de angariar os fundos para a doar às autoridades gregas. Uma grande empresa de transportes comprometeu-se a fazê-la chegar ao destino de forma gratuita, mas no dia em que o devia fazer disse que afinal não seria possível, porque tinham demasiado trabalho com a época do Natal.

“Foi então que a rede de ex-alunos voltou à acção e tornou-se possível, através de pessoas em vários países, fazer chegar a lancha à ilha de Lesbos no dia 21 de Dezembro, onde já está a salvar vidas, operada por um ex-aluno e nadador salvador britânico que tem por missão dar formação aos gregos sobre a sua utilização”, explica Mariana Arrobas.

Este ano o comité português tem duas vagas para este colégio em particular, uma com meia bolsa e outra sem bolsa, entre as 14 vagas totais – um recorde absoluto. Há vagas com bolsa de 100% para colégios na Alemanha e na Arménia e com bolsas de 75% para colégios na Noruega e na Holanda.

Os interessados têm até ao dia 17 de Janeiro para se candidatarem. Toda a informação pode ser encontrada no site da Associação UWC Portugal.