Paula Rego em 12 frases. Dos "medos" ao retrato de Jorge Sampaio
08-06-2022 - 15:27
 • Renascença

Pintora portuguesa, faleceu aos 87 anos. Em 2018 admitiu que fazer o autorretrato do antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, quase a "matou".

Paula Rego, falecida esta quarta-feira, na sua casa, em Londres, aos 87 anos, foi uma das mais destacadas artistas plásticas portuguesas. Entre os medos, o inicio do percurso como pintora e o retrato de Jorge Sampaio, que "quase" a "matou", a Renascença destaca 12 frases da artista lisboeta, que passou grande parte da sua vida em Inglaterra.

1 - "As histórias existem dentro de nós"

"As histórias existem dentro de nós. Nós, os portugueses, estamos cheios de histórias. Eu detesto a arte, é uma fantochada. Eu não sei pintar a óleo. Só quando era mais nova. Eu não pinto a óleo, alguns são a acrílico, ultimamente são todos feitos a pastel, porque o pastel é mais parecido com o desenho." - à Renascença.

2 - A dificuldade dos desenhos da imaginação

"Para os desenhos da imaginação é preciso ter um assunto muito, muito forte para que consiga sair. Não é uma coisa que aconteça todos os dias. Tem que ser realmente com muita intenção e muita força. Quando a gente está a desenhar do modelo, há sempre a linha, o desenho segue porque se está a olhar. Mas quando a gente está a olhar para dentro, vê cá os bonecos e põe no papel dessa maneira, é muito mais difícil,"

3 - "Pintar não é uma carreira é uma inspiração"

"Pintar ajuda a descobrir as coisas. Não é uma carreira, é uma inspiração." - 15 de novembro de 2015, ao "The Guardian".

4 - O primeiro desenho

"Fiz o meu primeiro desenho com nove anos, quando pintei a minha avó. Ela estava a coser e não sabia que eu a estava a pintar" - 20 de fevereiro de 2018, ao "The Guardian".

5 - Os sons que fazia a desenhar

"Eu fazia um barulho enquanto desenhava, um gemido, que eu não reparava. A minha mãe sabia que eu estava contente a desenhar quando passava no meu quarto e me ouvia." - 20 de fevereiro de 2018, ao "The Guardian".

6 - "Não sabia o que era ser artista"

"Eu nem sabia o que era ser artista. Mas, por acaso, quando era miúda, havia um pintor que me estava a fazer o retrato, Monsieur Lemerce. Ele estava a pintar-me e eu a olhar para ele e só pensava assim. “Ai, eu sou capaz de fazer melhor!” - 4 de julho de 2016, ao "Expresso".

7 - Pintava para agradar à mãe

"Não tenho bem a certeza de quando decidi ser artista. Eu desenhava para agradar a minha mãe, que estava a fazer um curso, por correspondência, no Reino Unido." - 15 de novembro de 2015, ao "The Guardian".

8 - Os medos

"A minha mãe costumava dizer que eu tinha medo de tudo, até das moscas. Tudo me assustava. Os meus pais compraram-me um cachorro para me fazer companhia, mas tinha tanto medo que não queria tocar-lhe. Ele acabou por atirar-se da janela e suicidar-se. Eu durmo com a luz acesa porque tenho medo do escuro, não gosto de aranhas, detesto estar sozinha e ainda tenho dias preenchidos de terror. Medo da morte e do diabo. Eu acredito no diabo. Ele entrou uma vez no meu quarto quando eu era pequena" - janeiro de 2016, ao "Notícias Magazine".

9 - "Pinto coisas que detestava quando era pequena"

"O meu marido tinha alucinações e via o quadro que ia pintar. A mim nunca me aconteceu. Tenho tido sonhos horríveis mas não os pinto. Às vezes pinto as pessoas que detestava quando era pequena, como é o caso da minha professora, a dona Violeta."- 22 de maio de 2016, ao "Diário de Notícias".

10 - A professora rude, que está em muitas pinturas

"Eu tinha uma professora, a Dona Violetta, que era particularmente rude, crítica e autoritária. Uma vez ela colocou uma chávena e um pires à minha frente e disse: "Desenha isso." Eu tentei, mas ela disse: "Queres ser um artista e nem sabes desenhar isto." Eu tinha oito anos. Ela aparece nos meus quadros como grotesca, sempre que preciso de uma mulher má. Pintar é um exercício de vingança, gentil ou violenta." - 15 de novembro de 2015, ao "The Guardian".

11 - "Pintar o retrato de Jorge Sampaio quase me matou"

"Pintar o retrato do Presidente de Portugal, Jorge Sampaio, quase me matou. Nós começamos a trabalhar no estúdio do último rei de Portugal, que era um ótimo pintor. Foi muito difícil, as pessoas não paravam de entrar e de dizer: "O braço não está muito bem", ou, "o nariz dele não é assim". Eu estava alojada num hotel próximo e fui para a cama exausta. Ele [Jorge Sampaio] é um homem muito simpático, ainda somos amigos." - 20 de fevereiro de 2018, ao "The Guardian".

12 - "Não me vejo como uma pintora feminista"

“Não é agradável viver sob uma crueldade tão grande. Interesso-me por muitas coisas, mas sou uma mulher por isso vejo as injustiças que as mulheres têm de suportar e tento destacá-las, de forma a ajudar. Não me vejo como uma pintora feminista” - 26 de janeiro de 2021, ao "observador".