Creches obrigadas a abrir mesmo sem crianças
13-05-2020 - 10:54
 • Fátima Casanova

A situação está a revoltar os responsáveis, que depois de dois meses encerrados, com contas para pagar, são, agora, forçados a fazer investimentos avultados para receber, nalguns casos, menos de meia dúzia de crianças. Governo não prevê apoios.

O Governo determinou a abertura das creches, com ou sem crianças para receber. Uma situação que está a revoltar os responsáveis por estes equipamentos. Depois de dois meses encerrados, com contas para pagar, são, agora, forçados a fazer investimentos na ordem os milhares de euros em material de proteção para receber, nalguns casos, menos de meia dúzia de crianças.

Na próxima segunda-feira, o colégio Piano Mágico, na Quinta do Conde, em Sesimbra, abre portas para receber uma criança. Só uma do grupo de 15, mas que exige um investimento de muitas centenas de euros, independentemente do número de crianças como diz Cristina Nogueira à Renascença:

“De momento, foram gastos, em material de proteção e detergentes desinfetantes, 1.400 euros, mais 245 euros em formações de higiene e segurança no trabalho e segurança em Covid-19."

Cristina Nogueira desabafa que é “uma despesa muita elevada só para receber uma criança”, para além das três funcionárias que saem do "lay-off" para entrarem ao serviço.

Apoio do Estado ainda não chegou


Mas este não é caso único. Em Valongo, o infantário S. Vicente em Alfena vai abrir para cinco crianças.

Há quatro funcionárias que vão sair do "lay-off" e as despesas são por conta de Tiago Nabais, que revela à Renascença que, só em material de proteção, o prejuízo “ronda os dois mil euros” e receia que “em junho tenha de reforçar a encomenda”.

Quanto ao apoio do "lay-off" ainda não recebeu nada, apesar de ter submetido a candidatura no primeiro dia.

"Na conta, ainda não caiu nada”, sublinha Tiago Nabais, acrescentando que “não percebe os critérios utilizados para os pagamentos, porque das duas vezes que ligou para a Segurança Social responderam que estava tudo bem e que a candidatura estava em análise”.

Acusado de dar "o dito por não dito"


Já sabendo que os investimentos para abrir portas não compensavam, Henrique Carlos avisou os pais que o Colégio Zero/Seis Limitada, em Pombal, ia ficar de portas fechadas. Estava tudo acertado, até o desconto na mensalidade, mas, afinal, é obrigado a abrir e agora, explica à Renascença, é acusado “pelos pais de ter dado o dito por não dito”.

De portas abertas, este colégio já não vai praticar descontos, mas “os pais não querem pagar a totalidade das mensalidades e estão a anular as inscrições”. Em poucos dias, o Colégio Zero/Seis Limitada perdeu 16 crianças, num universo de 70 que o frequentam, mas Henrique Carlos receia que as desistências não fiquem por aqui.

A partir de segunda-feira, Henrique Carlos vai receber 10 crianças, do grupo de 35 da creche, e tirar seis funcionários do "lay-off". Vai receber “uma criança para o berçário, duas na sala de um ano e sete na sala dos dois anos, o que implica custos incomportáveis, um prejuízo enorme".

São as contas das creches privadas, em vésperas de abrir portas, numa altura em que muitos pais preferem ficar em casa com as crianças, até ao final do mês, enquanto estiverem a receber os apoios excecionais do Estado.

Esta quarta-feira, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, confirmou à Renascença que não estão pensadas compensações para apoiar as creches do setor privado que são obrigadas a abrir portas, mesmo que não recebam um número de crianças que justifique o reinício das atividades.