Al Dawsari, o acrobata que criou um feriado na Arábia Saudita
23-11-2022 - 12:50
 • Eduardo Soares da Silva

O número 10 da Arábia Saudita que abalou com as ambições argentinas no Mundial foi orientado por três treinadores portugueses nos últimos cinco anos: Jorge Jesus, Leonardo Jardim e José Morais.

Até ao dia de ontem, terça-feira, Salem Al-Dawsari era um nome pouco familiar no panorama do futebol, apenas mais um dos 26 pouco conhecidos jogadores da seleção da Arábia Saudita. No entanto, um golo seu causou o primeiro grande terremoto no Campeonato do Mundo e deu folga nacional a todos os compatriotas.

A antecipação para a estreia da Argentina dificilmente poderia ter sido maior: o último Mundial de Lionel Messi, que depois da conquista da Copa América tornou ainda mais realista uma candidatura pelo tão desejado título de campeão do Mundo.

A Arábia Saudita, com uma equipa composta exclusivamente por jogadores que disputam o campeonato local, foi capaz de arrasar os sonhos argentinos logo na primeira etapa.

Messi ainda adiantou a Argentina no marcador e o VAR ajudou a anular três golos irregulares no primeiro tempo, que mantiveram os sauditas dentro da discussão pelo resultado.

Aos 48 minutos, já na segunda parte, Saleh Al Shehri, antigo jogador de Beira-Mar e Mafra, empatou a partida, momentos antes do grande momento do jogo e, provavelmente, um dos momentos a recordar de toda a competição.

Com o número 10 nas costas, Salem Al-Dawsari falhou uma receção na área, mas foi a tempo de recuperar a bola, virar-se para a baliza, fintar Rodrigo De Paul e colocar a bola no ângulo superior da baliza com um fortíssimo remate. Emi Martínez ainda desviou com a ponta da luva, mas não havia como evitar o golo.

A celebração do golo foi igualmente icónica, com uma pirueta que levou os milhares de sauditas ao delírio nas bancadas, que tiveram apenas de atravessar a fronteira para pintarem de verde, cores da bandeira, muitos dos lugares do Estádio Lusail.

Tuck foi diretor técnico do Al-Hilal em 2018/19, quando Jorge Jesus era o treinador da equipa principal e orientava o novo herói saudita. O golo faz parte de um movimento habitual do habilidoso avançado, tal como o festejo.

"O Salem [Al-Dawsari] era um bom profissional e que nos treinos e em alguns jogos marcava golos deste género: cortar para dentro, vindo da esquerda, e colocar a bola no lado contrário da baliza. Individualmente era muito forte e fisicamente também, daí a facilidade do mortal depois dos golos. É uma característica dele, tal como enrolar os pulsos com fita. É um acrobata, digamos assim", diz à Renascença.

Al-Dawsari tem 31 anos e escapou aos holofotes do futebol europeu. Fez toda a carreira no Al-Hilal, com uma discreta passagem em Espanha, pelo Villarreal, durante meio ano em 2018.

A Arábia Saudita, país com reconhecidos problemas sociais e de respeito pelos direitos humanos, vive muito o futebol, como confessa Tuck: "Ninguém estava à espera desta vitória. Acredito que ele, a seleção e o povo saudita estejam a exultar. É um país que gosta muito de futebol".

O golo de Al-Dawsari e a vitória sobre a Argentina teve tal impacto que o rei da Arábia Saudita, Salman bin Adulaziz Al Saud, decretou feriado nacional para quarta-feira.

Al-Dawsari era um anónimo, mas é conhecido de vários treinadores portugueses. O mercado saudita é apetecível para os treinadores lusos e, nos últimos cinco anos, o avançado foi treinado no Al-Hilal por Jorge Jesus, José Morais e Leonardo Jardim.

"Acredito que tenha evoluído com eles, ele é muito proativo e bom profissional. Os treinadores portugueses em particular devem ter ajudado a evoluir", diz.

A vitória frente à Argentina pode até abrir uma janela de oportunidade para a Arábia Saudita seguir em frente para os oitavos de final, mas independentemente do desfecho da história da Arábia Saudita no Mundial, Al-Dawsari já entrou na história da prova por abalar por completo as expectativas e o sonho argentino no Qatar.