Maria Bethânia recebeu a Medalha de Mérito Cultural pelas mãos do ministro da Cultura. Pedro Adão e Silva entregou o reconhecimento em palco, depois da artista brasileira ter terminado o seu concerto no Festival Jardins do Marquês - Oeiras Valley, este sábado.
Adão e Silva aplaude a "música e poesia cantada" da artista, mas sublinha a principal justificação para o reconhecimento atribuído: "O papel que Maria Bethânia teve e tem na divulgação da poesia de poetas portugueses".
"A Maria Bethânia deu a conhecer ao mundo, como talvez mais ninguém, José Régio, Camões, [Fernando] Pessoa, Sophia [de Mello Breyner Andresen], Manuel Alegre. Diria que, em nome de todos e do Estado português, queria atribuir a Medalha de Mérito Cultural a Maria Bethânia."
A artista exibiu a medalha para o público, que pediu mais uma canção. Em resposta, Maria Bethânia interpretou uma versão de "Cheira a Lisboa" para fechar um 'encore', que serviu também para celebrar a sua carreira.
"Maria Bethânia cultivou desde sempre uma relação muito estreita com a poesia portuguesa"
A cantora brasileira, que nasceu em Santo Amaro da Purificação, no estado da Baía, em 1946, mudou-se para Salvador, para estudar, tendo feito aí, em 1963, a sua estreia como cantora, na peça “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues.
No ano seguinte, participou no espetáculo “Nós, Por Exemplo”, ao lado do irmão Caetano Veloso, de Gal Costa, de Gilberto Gil e de Tom Zé, na inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador.
“Carcará” é considerado o primeiro grande sucesso de Maria Bethânia, cantora que adquiriu projeção nacional, no Brasil, quando em janeiro de 1965 substitui Nara Leão – a convite desta – no histórico espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro.
Desde o primeiro LP, publicado em 1965, Bethânia lançou dezenas de álbuns, tanto gravados em estúdio quanto ao vivo, e tem estabelecido muitas parcerias com nomes marcantes da música brasileira e internacional.
Na biografia da artista enviada, a que a Lusa teve acesso, lê-se que “como talvez nenhuma outra intérprete fora de Portugal, Maria Bethânia cultivou desde sempre uma relação muito estreita com a poesia portuguesa, desempenhando um papel incomparável na sua divulgação”.
Gravou autores como Sá de Miranda (“Comigo me desavim”, título de um seu espetáculo de 1968), José Régio (“Cântico Negro”, incluído no álbum “Nossos Momentos”, de 1982), ou Manuel Alegre (“Senhora do Vento Norte”, no álbum “Diamante Verdadeiro”, de 1998), e dedicou álbuns inteiros a Fernando Pessoa (“Imitação da Vida”, de 1997) e a Sophia de Mello Breyner Andresen (“Mar de Sophia”, de 2006).
A Universidade Federal da Baía atribuiu-lhe em 2016 o Doutoramento Honoris Causa, pelo contributo dado para a Música Popular Brasileira.
Nesse mesmo ano, a escola de samba da Mangueira prestou-lhe homenagem ao desfilar com o enredo “Maria Bethânia: a Menina dos Olhos de Oiá”.
Em Portugal, o Presidente da República agraciou-a com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a 26 de novembro de 1987, e dez anos depois, a 18 de agosto de 1997, receberia o grau de Comendadora da mesma Ordem.
Também a Câmara Municipal de Lisboa distinguiu-a com a Medalha de Mérito Municipal, a 7 de junho de 2011.
A artista recebeu ainda, em março de 2010, a medalha da Ordem do Desassossego, homenagem da Casa Fernando Pessoa pelo seu papel na divulgação da obra do poeta português.
[Notícia atualizada às 11h40 de 2 de julho de 2023]