Árvores crescidas, um futuro padre, uma nova catequista. Os efeitos da JMJ numa paróquia de Viseu
05-08-2024 - 09:08
 • Liliana Carona

Faz agora um ano que Portugal acolheu a Jornada Mundial da Juventude 2023, que teve um impacto de, pelo menos, 370 milhões de euros na economia portuguesa. Mas mais do que os números, a JMJ modificou paróquias, como Côta, no concelho de Viseu, onde passou a existir um futuro padre, uma nova catequista e mais de uma dezena de oliveiras.

O símbolo feito por jovens da freguesia da paróquia de Côta enquadra a plantação de mais de uma dezena de oliveiras, junto à Praia Fluvial de Silvares.

“Foi um símbolo feito por nós, feito pela nossa paróquia, em que foram escritos os nomes das pessoas que vieram. E decidimos ter uma coisa própria da nossa paróquia e, portanto, foi, digamos, a imagem de marca dessa semana, dessas duas grandes semanas, juntamente com esta plantação de árvores que foi feita precisamente pelos jovens e por alguns membros das famílias de acolhimento dos ‘Dias na Diocese’ (cerca de meia centena de jovens)”, descreve David Chaves, 16 anos, a frequentar o 11º ano de escolaridade.

Acólito, árbitro de futebol e envolvido no teatro, David acredita poder conciliar tudo com a vocação que se sedimentou na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.

“Eu queria seguir Música, mas a vocação sacerdotal, sem dúvida, não é algo descartado”, começa por sublinhar David, explicando que “já havia uma chama muito pequenina antes da JMJ”.

David sabe que o “caminho é também um bocado arriscado”, mas foi na JMJ que “encontrou o tal Cristo vivo”. E por isso, David, não tem dúvidas em afirmar que “a Jornada Mundial da Juventude contribuiu para que a chama aumentasse e para que continuasse a ser uma opção o caminho sacerdotal”, justifica, ainda que considere “inexplicável”.

“Não dá para pôr em palavras, porque a vocação é algo que se sente, é quase como um chamamento, e para quem tem fé, consegue ter um bocado essa noção, mas só de facto quem é chamado a fazer um caminho religioso é que consegue perceber aquilo que se está a sentir, e de facto é algo que vem de mim e não por aquilo que as outras pessoas dizem e que querem de mim”, conclui David, enaltecendo a Jornada Mundial da Juventude que a seu ver “mostra que temos uma Igreja viva e que é uma Igreja atual e que pode ser atual, até pelas palavras do Papa Francisco”.

“É na Igreja que consigo aliviar a cabeça de tudo o resto”

A opção de ser sacerdote consolidou-se para David Chaves. Já para Alexandra Ferreira, engenheira de madeiras, 42 anos, surgiu um novo caminho, que a fez duvidar: ser catequista.

“Quando fui chamada a ser catequista, eu até duvidei das minhas capacidades. Alguém se enganou. Eu? Eu não me acho capaz. E então disseram-me, Jesus... Não chama os capacitados, capacita os que chama. Bom, então aquilo fez algum sentido e entreguei nas mãos de Deus”, relembra Alexandra, considerando que tem: “sido um caminho nada fácil, mas se calhar por não ser assim tão fácil é que é tão bonito”.

A responsável do Comité Organizador Paroquial de Côta, no concelho de Viseu, Alexandra Ferreira, contou sempre com o braço direito, David Chaves, já habituado a participar.

“Eu sou acólito aqui na paróquia e, portanto, ao domingo é muito raro falhar uma missa. Só de facto quando tenho jogo ou algo do género é que não consigo estar presente, mas sempre que posso eu vou, porque aqui na terra costuma-se dizer, principalmente as pessoas mais idosas, que o domingo sem missa nem parece que é domingo. E de facto, foi a educação que me deram e ainda sinto um bocado isso. E, também é um sítio em que eu consigo, digamos, aliviar a cabeça de tudo o resto que se passa à minha volta e quando vou ali tenho os meus desabafos e consigo estar tranquilo”, revela.

Da freguesia de Côta foram seis jovens à JMJ, a Lisboa, mas Alexandra Ferreira, nunca imaginou que conseguisse participar.

“Os planos de Deus são sempre melhor que os nossos, se eu alguma vez sonhei em ir à Jornada, não, mas Deus construiu-me o caminho assim. Foi-me até dado um prémio antes de partir para a Jornada, pelo meu empenho, por ter deixado o trabalho orientado para poder estar ausente aquela semana”, conta, emocionada.

A beleza da descoberta de vocações é um dos reflexos da Jornada Mundial da Juventude.

“Passei a envolver-me mais nos assuntos da paróquia, tem sido uma constante mudança, é uma conversão continua, um chamamento”, destaca Alexandra, enquanto David, sonha trazer um dia mais vitalidade à Igreja, até porque, é essa característica que observa no pároco da terra.

“O padre Eurico teve um papel bastante importante para a minha aproximação à Igreja, porque é um padre mais jovem, com outra forma de falar e outra forma de cativar e, portanto, teve um papel muito importante nessa minha aproximação com a Igreja”, assume.