Itália. Partido Democrático e Movimento Cinco Estrelas acertam coligação liderada por Conte
28-08-2019 - 20:40
 • João Pedro Barros

Primeiro-ministro cessante vai reunir-se com o Presidente da República na manhã de quinta-feira. A expectativa é que Conte saia da reunião com aval para formar um novo executivo, que deixa de fora a Liga de Salvini.

O Movimento Cinco Estrelas (M5S, anti-sistema) e o Partido Democrático (PD, centro-esquerda) chegaram a um acordo para formar uma nova coligação de Governo, que evita eleições antecipadas e faz com que a Liga (extrema-direita), do polémico vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, seja substituída no executivo pelo PD.

O primeiro-ministro cessante, Giuseppe Conte (indicado pelo M5S mas que servia de pêndulo entre o movimento e a Liga) vai reunir-se pelas 8h30 de Portugal Continental desta quinta com o Presidente da República Sergio Mattarella, após a qual se espera fumo branco nesta crise política.

Depois de dias de negociações tensas – em que Conte, inamovível para o M5S e vetado pelo PD, parecia ser o principal obstáculo –, os principais responsáveis dos dois partidos proferiram declarações públicas de entendimento.

“Expressámos ao Presidente da República a nossa luz verde para um governo com uma nova maioria política. Comunicamos ao Presidente que aceitamos a proposta do M5S no nome para primeiro-ministro”, referiu Nicola Zingaretti, líder do PD.

“Há um acordo político com o PD sobre Conte, para tentar formar um Governo de longo prazo. O papel que ele vai ter faz-nos sentir segurança em relação às políticas que queremos pôr em prática”, declarou Luigi Di Maio, líder do M5S, fundado há 10 anos pelo cómico Giuseppe Grillo

Os dois partidos têm agora de acordar um programa de Governo e uma equipa ministerial. “Não há um estafeta para perseguir e não há testemunho para receber, mas sim um novo desafio para começar”, acrescentou Zingaretti, clamando por mudanças face às políticas populistas, eurocéticas e anti-imigração de Salvini, que era também ministro da Administração Interna.

Tiro de Salvini faz ricochete

Foi o homem forte da Liga a provocar a crise política que já há muito se anunciava entre dois parceiros que nunca se sentiram confortáveis numa coligação de conveniência. Salvini apresentou uma moção de censura no Senado ao primeiro-ministro Giuseppe Conte, indicado pelo M5S, que não se assume como partido de esquerda nem de direita.

Conte renunciou ao seu próprio cargo, efetivamente terminando a 9 de agosto uma coligação que durou apenas 14 meses. Salvini pediu de imediato eleições antecipadas, que lhe poderiam ser muito favoráveis: se nas legislativas de março de 2018 o M5S tinha sido o grande vencedor (com 32,7% dos votos na Câmara dos Deputados e 32,2% no Senado, face a 17,35% e 17,61% da Liga, respetivamente), nas europeias a vitória da Liga (34,3%) foi clara, face a 22,7% do PD e 17,1% do M5S.

Porém, as últimas sondagens em itália mostram uma grande queda na sua popularidade, tendo já sido ultrapassado pelo próprio Conte. Pelo menos para já, a jogada parece ter saído furada, mas Salvini não desiste.

"A única coisa que une o M5S e o PD é o ódio à Liga. Milhões de italianos estão a ser feitos reféns por deputados que estão agarrados aos próprios lugares”, acusou, após um encontro com Mattarella em que terá tentado forçar novas eleições.

A perspetiva de Conte como primeiro-ministro parece estar a acalmar os mercados, que perspetivam que o académico irá liderar um Governo fiscalmente prudente e que não vai entrar em choque com a União Europeia.