Antigo governante quer Autoridade da Concorrência no Porto
11-05-2018 - 19:08
 • Henrique Cunha

Deslocalização do organismo para o Porto dava-lhe mais independência e autonomia, defende Fernando Alexandre, o convidado do Conversas na Bolsa deste mês.

O antigo secretário de Estado Fernando Alexandre defende a mudança para o Porto da sede da Autoridade da Concorrência (AdC), porque isso a “afastaria dos grandes poderes de decisão”, ganhando independência e autonomia.

O convidado deste mês das "Conversas na Bolsa", sustenta que "há entidades que pela sua natureza era bom estarem afastadas do poder central, porque ganham independência e autonomia".

Fernando Alexandre diz que o facto de "ser professor na Universidade do Minho e não conviver diariamente com pessoas ligadas ao poder dá uma independência de espírito e de avaliação que outras pessoas que convivem todos os dias com outras pessoas em determinadas posições não têm o mesmo à-vontade para fazer críticas".

Fernando Alexandre assumiu esta linha de pensamento em declarações à Renascença no final da sua intervenção na edição deste mês das "Conversas na Bolsa”, que teve como tema "o investimento empresarial e o crescimento da economia", a partir de um livro que produziu em conjunto com mais seis professores.

Crescimento "no século XXI foi uma desilusão"

Na sua intervenção, o professor universitário começou por lembrar que o crescimento económico "no século XXI foi uma desilusão".

O docente da Universidade do Minho referiu que "foi uma supressa para os portugueses e para os investidores internacionais ", porque "depois de quatro décadas, no final do século XX, em que Portugal teve taxas de crescimento superiores à dos países mais ricos da União Europeia, no século XXI, Portugal entrou num ciclo de baixo crescimento e de divergência em relação aos nossos parceiros da União Europeia.

Fernando Alexandre diz que "nas últimas duas décadas, basicamente, não saímos da posição em que estávamos", e afirma que nesse período “não soube aplicar a capacidade que tinha conseguido em se endividar”, dando o exemplo de que "apenas 10% do total do endividamento se dirigiu à industria que é fundamentalmente exportadora".

O professor recordou que "Portugal foi o país que entre 1999 e 2008 menos cresceu e que mais se endividou no mundo".

Ainda assim, Fernando Alexandre frisa que "há sinais positivos, como o do aumento do peso das exportações portuguesas no PIB que desde 2010 tem vindo a aumentar de forma razoavelmente sustentada".

O professor defende que "este é o caminho que Portugal tem que seguir". Na sua opinião "não é uma posição ideológica, é uma evidência olhando para aquilo que são as variáveis da economia portuguesa", porque entre outras razões "somos um dos países em envelhecimento mais rápido, em contração demográfica mais acelerada".

Para Fernando Alexandre, "se temos a população a envelhecer e em contração, a forma que as empresas portuguesas têm de aumentar as vendas, e Portugal aumentar o PIB é vendendo ao exterior".

Por isso, o professor não tem dúvidas de que "do ponto de vista das políticas públicas aquilo que tem de ser feito é favorecer as empresas exportadoras".

Fernando Alexandre referiu que 57,3% das empresas exportadoras se situam a norte, mas recordou que "Portugal é um dos quatro países mais centralizados do mundo", e que "quem está em Lisboa não tem sensibilidade para esta realidade".

O antigo secretário de Estado Adjunto do ministro da Administração Interna defende a alteração do modelo de governação da AICEP - a agência para o investimento e comércio externo. Propõe "patamares de decisão com um conselho das diferentes regiões que possam ser ouvidas e que tomem conhecimento dos investimentos que chegam à AICEP". Defende também que se dê "a oportunidade às regiões de apresentarem os seus argumentos" na tentativa de obtenção desse investimento.

Fernando Alexandre manifesta a esperança de que "o crescimento económico se mantenha ao ritmo atual durante alguns anos", referindo que "2,7% ao ano é um valor bom" se se "tornar o turismo sustentável, se se tornar o crescimento das exportações sustentável”, indicadores que "nos podem tornar mais fortes e mais resistentes".

O convidado deste mês das “Conversas na Bolsa” diz que “temos de caminhar para uma certa forma de regionalização, com mudanças inteligentes em que se avalie o que é relevante para a economia portuguesa”, notando algumas vantagens no processo de descentralização. E Fernando Alexandre deixa o exemplo da formação profissional, afirmando que “a região é que sabe quais são as suas necessidades”.