Abusos na Igreja. Dados das listas não são os mesmos do relatório da Comissão Independente
10-03-2023 - 16:58
 • Ângela Roque , Salomé Esteves (mapa) , Diogo Camilo

O número de abusadores nas listas entregues às dioceses não tem correspondido, na maioria das situações, ao que consta no Relatório da Comissão Independente (CI) que investigou os abusos na Igreja Católica, nem é apenas de padres no ativo.

O número de abusadores que está nas listas entregues às dioceses não tem correspondido, na maioria das situações, ao que consta no Relatório da Comissão Independente (CI) que investigou os abusos na Igreja Católica, nem é apenas de padres no ativo.

No documento divulgado a 13 de fevereiro existe uma tabela que quantifica os casos por diocese, outra que faz o mesmo em relação aos institutos religiosos de vida consagrada e outra, ainda, relativa à Obra de Rua, ao Corpo Nacional de Escutas e à Opus Dei.

No caso das dioceses, que já receberam as listas da CI, a informação divulgada revela que, afinal, muitos dos nomes não são de sacerdotes no ativo, e vários já morreram.

Citando apenas as dioceses com mais casos apontados: no Patriarcado de Lisboa, por exemplo, a tabela indica 66 clérigos e 10 leigos como abusadores, mas da lista entregue só constam 24 nomes: cinco estão no ativo, oito já morreram, dois encontram-se doentes e retirados, e um abandonou o sacerdócio. São, ainda, referidos três sacerdotes sem qualquer nomeação (função atribuída), e quatro são nomes desconhecidos. Da lista consta também um leigo.

No caso do Porto, dos 35 padres e cinco leigos indicados no relatório, a diocese recebeu uma lista com 12 nomes: sete deles ainda vivos, em relação aos quais ficou a saber, “por informação oral do Grupo de Investigação Histórica”, que “as denúncias se reportam às décadas de 70 e 80”, não tendo avançado com medidas cautelares.

Também em Lisboa os suspeitos no ativo (cinco sacerdotes) não foram ainda afastados do exercício de funções, e foram pedidas mais informações à Comissão Independente “com caráter de urgência”.


Comissão Independente não comenta listas

Entre os vários elementos da Comissão Independente que a Renascença tentou contactar esta sexta-feira, apenas Ana Nunes de Almeida respondeu à chamada, mas recusou esclarecer porque é que existe esta discrepância nos números.

“Não vamos falar nada em relação às listas. Não vou fazer qualquer comentário”, afirmou a socióloga, confirmando no entanto que já receberam pedidos de esclarecimento de várias dioceses e que estão “a colaborar”.

Quanto à lista dos sacerdotes de congregações, que ainda não foi entregue à Confederação dos Institutos Religiosos de Portugal, diz que ainda estão a trabalhar nos dados, porque este “é um processo muito complexo”, há muitas instituições e – citamos - tem de haver “rigor” para as coisas serem “bem feitas”.