Jogadores podem sair dos clubes antes de terminar a época
19-03-2020 - 13:29
 • Eduardo Soares da Silva

Lúcio Correia critica a UEFA por não se ter pronunciado sobre os contratos dos jogadores. Extensão das ligas nacionais, devido ao coronavírus, pode ultrapassar validade de contratos de muitos atletas.

Lúcio Correia diz que não há nada que impeça os jogadores de deixar os clubes no final dos seus contratos, a 30 de junho, independentemente da conclusão, ou não, do campeonato.

Em entrevista a Bola Branca, Lúcio Correia lança a única alternativa para evitar a situação.

"É possível prorrogar o contrato por mais um ou dois meses, o tempo necessário. A questão não se coloca para quem tem contrato para lá de 30 de junho, só o direito a férias, que pode ser gozado mais tarde. É preciso um conjunto de medidas para salvaguardar a integridade das competições. Espero que a Federação, Liga e Sindicato se entendam, porque é essencial. Alterações nos plantéis ofenderia a verdade desportiva da competição", explica o especialista em Direito Desportivo.

No entanto, nada obrigará os jogadores a permanecer para lá dos atuais vínculos, caso assim queiram, ou caso tenham já chegado a acordo com outro clube. Nesse sentido, Lúcio Correia não coloca de parte a possibilidade de o campeonato terminar com as equipas muito desfalcadas.

"Os clubes devem sensibilizar os atletas para prorrogar os vínculos, mas temos a questão que o direito de trabalhar sobrepõe-se a qualquer norma regulamentar. Ou seja, se o atleta encontrar uma melhor solução para a sua vida profissional, não há forma de evitar isso. É preciso um entendimento entre todos. Imaginem uma equipa que tem 10 jogadores com outras oportunidades. Com que equipa vai jogar a partir do dia 1 de julho?", questiona.

Há ainda o caso dos jogadores que já estão oficializados noutros emblemas, como é o caso de Francisco Trincão, que, a partir do dia 1 de julho, deixa de ser jogador do Sporting de Braga e passa a representar o Barcelona: "Ninguém pode obrigar o atleta a ficar. Qual é o clube que investe 30 milhões num atleta e depois fica sujeito a que o seu investimento saia gorado porque o jogador se lesionou numa última jornada do campeonato? É impensável".

UEFA não esclareceu contratos

Lúcio lamenta que a UEFA não se tenha pronunciado sobre a situação contratual dos jogadores, face à possível extensão dos campeonatos para lá da data de fim dos contratos.

"É uma questão que a UEFA perdeu a oportunidade de ajudar as Ligas. Deveria ter dado soluções porque há campeonatos que não vão conseguir terminar antes de 30 de junho e nada nos garante que isso não vá acontecer em Portugal. Fico espantado e desagradado pela oportunidade que se perdeu. Ou são tomadas medidas já e com muita segurança e assertividade, ou as consequências podem ser piores para nós", começa por dizer.

Reforços para as últimas jornadas?

Lúcio Correia risca a possibilidade dos clubes inscreverem jogadores a 1 de julho, dia em que abre o mercado de transferências.

"Não podemos esquecer que a janela de transferências abre a 1 de julho. Os plantéis não podem ter reforços, é uma norma prevista a nível internacional. Fico surpreendido como não há nenhuma indicação do retardamento da janela de transferências. Os clubes não podem inscrever atletas", afirma.

Regulamento obriga que o campeonato tenha 34 jornadas

Quanto à atribuição do título de campeão, o Professor Universitário de Direito Desportiva rejeita as possibilidades de atribuição do título à equipa que vai à frente ou de atribuir o título ao vencedor da primeira volta. Os regulamentos não contemplam esses cenários.

"O campeonato português vai sempre ter todas as jornadas. O regulamento obriga. Ouvi barbaridades, que seria campeão quem terminasse a primeira volta em primeiro lugar, o que é um absurdo. Quem tivesse à frente do campeonato na altura da paragem é outro absurdo. O regulamento é esclarecedor, as equipas têm de jogar duas vezes entre elas e fazer todas as jornadas", explica, a Bola Branca.

E mesmo que a Liga quisesse, uma alteração de regulamento nunca poderá ter efeito imediato: "O regulamento está em vigor e não pode ser alterado esta época. Mesmo que houvesse alteração extraordinária, só teria efeito na época seguinte, é o que diz a nossa lei", remata.