Rui Nabeiro 1931-2023. O homem “que do nada fez um império”
19-03-2023 - 11:32
 • João Carlos Malta , Cristina Nascimento , Fátima Casanova , Pedro Valente Lima

Multiplicam-se as reações à morte de Rui Nabeiro, um empresário carismático a que todos reconhecem a grande capacidade de fazer. Deixa um legado de enorme relevo para Campo Maior, para o Alentejo, e para Portugal.

Rui Nabeiro deixou sempre um lastro de simpatia por aqueles que se cruzaram com ele, e que dificilmente não se deixaram “inspirar” pela obra e conquistas que alcançou ao longo de uma vida dedicada ao seu “Grupo Delta”. António Saraiva, patrão dos patrões, define-o como um homem “que do nada fez um império”.

O líder da CIP não tem dúvidas de que as próximas gerações se vão rever nos feitos de Rui Nabeiro, que nos “deixa um legado de gerir com valores, com ética, e com princípios”. “Uma responsabilidade social notável aquilo que deve inspirar os empresários e os líderes de hoje, porque num tempo disruptivo, num tempo de imprevisibilidade, é importante ter timoneiros ter líderes que nos inspirem”, resume à Renascença.

O empresário Rui Nabeiro, fundador do Grupo Nabeiro - Delta Cafés, morreu este domingo aos 91 anos, vítima de doença, no Hospital da Luz, em Lisboa, disse à Lusa fonte do grupo.

"É com profundo pesar que a família Nabeiro informa que faleceu hoje, dia 19 de março, o Comendador Manuel Rui Azinhais Nabeiro, presidente e fundador do Grupo Nabeiro -- Delta Cafés", pode ler-se num comunicado enviado pelo grupo.

O Comendador Rui Nabeiro "encontrava-se hospitalizado no Hospital da Luz, devido a problemas respiratórios", acrescentou a mesma fonte, referindo que "a data e o programa das exéquias serão oportunamente comunicados".

O escritor José Luís Peixoto, que escreveu o livro “Almoço de Domingo” um romance baseado na vida de Rui Nabeiro, define sem rodeios que este foi “uma pessoa importantíssima, não só na sua região, mas claramente a um nível nacional”.

“É uma figura que que foi uma inspiração para todos aqueles que tiveram oportunidade de serem tocados pela sua ação”, declara à Renascença.

Peixoto vê Nabeiro como uma pessoa de “ação”, “muito ativo e com muita vontade de fazer e de construir”. E por isso, “vai ser recordado por muito e muito tempo”.

No que respeita à relação com Campo Maior, o escritor fala da relação umbilical e de um nome que “nunca poderá deixar de ser mencionado quando se falar da história daquele lugar”, isto porque efetivamente “há ali um antes e um depois”.

“Campo Maior a deve muito a Rui Nabeiro, mas é essa é uma dívida que ele nunca cobraria, na medida em que sempre teve um amor muito grande à sua terra”, identifica.

Do lado pessoal, António Saraiva recorda uma pessoa “cativante”, sempre “com aquele sorriso na cara”, “o avô que gostávamos todos de ter”. “Era um homem de bem com a vida”, valoriza.

Já Peixoto diz que a generosidade que o caraterizava permitia-lhe estar à vontade tanto “com o Presidente da República como com qualquer outra pessoa mais humilde”.

O economista João Duque, também à Renascença, vê em Rui Nabeiro "um empresário que é um modelo de empresário para os portugueses”, “porque consegue conciliar a vertente de iniciativa, resultados positivos que são aplicados no desenvolvimento da empresa e do grupo mais tarde, mas que não deixam de ter uma preocupação de sustentabilidade do negócio e social”.

Em relação à Delta e ao futuro do império construído pelo patriarca, Duque crê que "por vezes quando o líder desaparece, deixa muito frágeis os grupos, mas ele já tem uma terceira geração que está à frente dos negócios e que já permitem ter a expectativa de que essa terceira geração vai garantir a atividade e o crescimento e inovação."

O Presidente da República lamentou o desapareimento de Nabeiro, e em mensagem no site da Presidência "apresenta à família as mais sentidas condolências". Marcelo fala de "um exemplo e uma inspiração para todos quantos podem devolver à sociedade um pouco daquilo que esta lhes deu"."Ainda ontem, ao fim da tarde, o Presidente da República teve a oportunidade de o visitar no hospital", lembra .

Entretanto, no Twitter, o primeiro-ministro António Costa escreveu que “o legado do Comendador Rui Nabeiro ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país”. “O seu percurso foi inspirador, pela força, energia e sempre o sonho de fazer acontecer”, acrescentou.

Também o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, escreveu na mesma rede social que Nabeiro “distinguiu-se pelo amor a Portugal e à sua terra de sempre, Campo Maior, que serviu como autarca e cidadão”.

“Foi um dos maiores e melhores empresários portugueses, muito atento aos direitos dos seus trabalhadores. Permanecerá na memória de todos”, sublinhou Santos Silva.

O ministro da Economia, António Costa Silva, elogia um "empresário exemplar", que "claramente demonstrou que uma ideia pode transformar o mundo".

"Desenvolveu uma ideia, desenvolveu uma visão, foi capaz de criar e disseminar riqueza, de construir um grupo no interior de Portugal que compete nos mercados internacionais. É exatamente este exemplo de que nós precisamos."

À margem de uma cerimónia pública em Vizela, o ministro da Administração Interna, José Luis Carneiro, evoca uma figura ímpar: "Deixa-nos um dos espíritos mais criativos, mais fortes, que o nosso país conheceu nas últimas décadas".

Manuel Pizarro, ministro da Saúde, também endereçou as suas condolências, destacando um "homem com um coração enorme, que sempre foi o seu bem mais valioso". "Inspirou inúmeras pessoas com os seus gestos permanentes de generosidade e solidariedade."

"Portugal deve-lhe imenso. Jamais esquecerei o apoio que sempre deu ao Serviço Nacional de Saúde, enquanto utilizador do Hospital de Elvas e doador de múltiplos e importantes apoios", diz o ministro, em nota enviada ao Grupo Nabeiro.

Ainda nas reações dos membros do Governo, a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, destaca o papel de Rui Nabeiro na "promoção da formação superior e profissional".

Em comunicado enviada à imprensa, a mensagem realça as instituições criadas pelo empresário, como o Centro Internacional Comendador Rui Nabeiro, o Centro Escolar Comendador Rui Nabeiro ou ainda o Centro Educativo Alice Nabeiro, ambos em Campo Maior.

Já o presidente do PSD, também no Twitter, declarou que o fundador da Deita “foi um homem bom, um exemplo de capacidade empreendedora e responsabilidade social”.

“Mostrou que é possível criar riqueza com trabalho e inovação e que, a partir daí, se gera emprego e qualidade salarial. Sentidos pêsames à sua família”, escreveu Luís Montenegro.

O Presidente da Câmara de Campo Maior, Luís Rosinha, lamentou à Renascença o desaparecimento da "maior referência é do município", "o empresário número 1 do nosso país ou pelo menos a figura de referência do nosso país enquanto empresário".

Rosinha fala de um homem que sempre se afirmou a partir de Campo Maior e anunciou que haverá cinco dias de luto municipal, a partir deste domingo.

[Notícia atualizada às 16h37 de 19 de março de 2023]