Vitória esmagadora de Orbán torna ainda mais tensas as relações entre Hungria e a UE
04-04-2022 - 22:52
 • Reuters co

O líder húngaro sai fortalecido das eleições de domingo, em que conquistou uma forte maioria parlamentar. Saiba quais os desafios que o homem que comanda o Fidesz tem pela frente.

Impulsionado pela quarta vitória consecutiva nas eleições, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, deverá manifestar-se contra as sanções energéticas à Rússia e endurecer a posição nas negociações com Bruxelas para a libertação dos fundos congelados da UE.

O nacionalista Orbán, que manteve uma ampla maioria nas eleições deste domingo, esmagando a oposição apesar dos esforços desta para se unir contra ele, provavelmente continuará a rejeitar quaisquer sanções da UE ao petróleo e gás russos, argumentando que destruiriam uma economia que já está a desacelerar devido aos impactos da guerra da Ucrânia.
Com poder reforçado, Orban também consolidará as políticas conservadoras a nível doméstico e poderá tentar pressionar as empresas estrangeiras em alguns setores, como o retalho, onde as unidades nacionais não dominam.
O partido que Orbán lidera, o Fidesz, pretende formar sua própria classe de industriais leais.
Mas Orban enfrenta alguns desafios difíceis: precisa de reparar as relações com os aliados mais a leste como a Polônia, tensa devido à postura cautelosa sobre a guerra na Ucrânia após uma década de estreitos laços comerciais com o presidente russo, Vladimir Putin.


Precisa também de conter um défice orçamental crescente, num momento em que a economia húngara deve desacelerar devido a interrupções na cadeia de abastecimento no setor automóvel.

O desbloquear dos fundos de recuperação retidos por Bruxelas pode desempenhar um papel fundamental na fixação do orçamento. Espera-se, por isso, que esta seja uma bandeira de Orbán, no entanto este pode ser um processo demorado.
A UE suspendeu os pagamentos à Polónia e à Hungria dos fundos de recuperação da pandemia devido às deficiências democráticas percecionadas, e que os economistas dizem que podem começar a exercer pressão sobre Budapeste e Varsóvia a partir do segundo semestre do ano, salvo um compromisso.


Com base nos resultados preliminares, o Fidesz terá 135 assentos, uma maioria de dois terços no parlamento, com 56 assentos para a aliança da oposição.

Os críticos dizem que a vitória pode encorajar Orban a prosseguir a erosão das normas democráticas, da liberdade dos meios de comunicação e dos direitos das pessoas LGBTQ.
"Sem querer soar muito dramático, é uma tragédia. Parece o fim de qualquer sonho que se possa ter de democracia na Hungria", disse uma autoridade da UE.
"Teríamos que cortar as transferências de dinheiro para que ele não construa uma oligarquia com nosso dinheiro", acrescentou.


Na Polónia, a reeleição de Orban foi bem-vinda com sentimentos contraditórios entre os nacionalistas dominantes.

"Putin é uma ameaça de longo prazo também para a Hungria e quem não vê isso está cometendo um grande erro", disse o vice-presidente polaco Marcin Przydacz nesta segunda-feira.