Porque é que os Faraós são ainda hoje “influencers”?
25-11-2022 - 06:44
 • Maria João Costa

Na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, abre sexta-feira ao público a exposição “Faraós Superstars”, que reúne 250 obras de diversas coleções europeias. Foi adiada devido à pandemia e acontece no centenário da descoberta do túmulo de Tutankhamon.

Pesa mais de uma tonelada e meia e é apenas um pequeno fragmento do punho esquerdo de um colosso de Ramsés II. A peça que viajou do British Museum de Londres, até Lisboa numa operação que implicou bastantes logística integra a exposição Faraós Superstars que abre esta sexta-feira ao público na Fundação Calouste Gulbenkian.

Este fragmento de tamanho gigante foi oferecido pelo rei George III ao British Museum, explica João Carvalho Dias, um dos curadores da mostra que indica que este punho em granito pertenceria a um “colosso que deveria medir cerca de 15 metros”. A dimensão desta peça contrasta com a de outras obras expostas.

A exposição que conta, através da arte, três mil anos de história dos Faraós propõe ao visitante uma viagem no tempo. As 250 peças reunidas em Lisboa proveem de diversas coleções públicas e privadas e são mostradas numa altura de dupla celebração.

Além dos 100 anos da descoberta do túmulo de Tutankhamon, no Vale dos Reis, pelo egiptólogo britânico Howard Carter, este ano assinalam-se também os 200 anos da decifração dos hieróglifos, por Jean-François Champollion. A exposição que está agora em Lisboa e que passou antes pelo Mucem, de Marselha, assinala também estas datas.

Desde logo ao mostrar algumas dos tesouros da coleção de arte egípcia do fundador Gulbenkian. O curador João Carvalho Dias que com o francês Frédéric Mougenot projetou esta mostra, dá como exemplo a Cabeça de Senuseret III em obsidiana, e a “Cabeça de Amen-hotep III em vidro azul, duas das 20 peças que Calouste Gulbenkian adquiriu num leilão em Londres, meses antes da descoberta do túmulo de Tutankhamon.

A unir estes dois factos, o leilão e a descoberta está um homem, Howard Carter que terá aconselhado Gulbenkian na escolha de alguns objetos a leilão e que meses depois protagonizou a descoberta do túmulo que mudou e “catapultou a egiptologia e a arqueologia para uma esfera que até então não era conhecida”, explica João Carvalho Dias.

Durante cerca de 3 mil anos, o Egipto foi governado por mais de trezentos e quarenta Faraós. Desses, na atualidade, são sobretudo conhecidos nomes como Tutankhamon, Nefertiti, Ramsés ou mesmo Cleópatra, mas houve muitos mais. Na tradição egípcia, explica a exposição “enquanto o seu nome for escrito e pronunciado, e as suas imagens preservadas, no mundo dos vivos”, um individuo sobrevive no Além.

E foram muitos os Faraós que ainda hoje sobrevivem e a sua imagem tornou-se um “ícone” explica João Carvalho Dias que fala numa questão de marketing que ganhou maior dimensão quando há 100 anos, Howard Carter vendeu em exclusivo para a revista Time as fotografias do achado do túmulo de Tutankhamon, então replicadas em todo o mundo.

Na Gulbenkian, o visitante terá oportunidade de apreciar peças de museus como o Louvre e o Orsay de Paris, do Museo Egizio de Turim, do Ashmolean Museum de Oxford, do Musée des Civilisations de l’Europe et de la Méditerranée de Marselha, mas também da Biblioteca Nacional de Portugal, entre outras coleções.

Na mostra que percorre séculos são mostradas além de antiguidades egípcias, também iluminuras medievais, pinturas clássicas, documentos, mas também vídeos, capas de disco de música pop, moda ou publicidade contemporânea.

A unir estas peças antigas com as contemporâneas está a imagem dos faraós replicadas em livros do Asterix ou na camisola da seleção do Egipto, conhecida como os faraós, que sempre que celebra um golo vira a camisola e mostra uma replica de Tutankhamon.

Estes símbolos sobreviveram ao tempo, e na exposição são mostradas peças de arte contemporânea, como uma abelha de loiça a que a artista portuguesa Joana Vasconcelos chama Cleópatra ou a capa de um disco da banda ZZTOP com um faraó de óculos escuros na frente ou ainda uma camisola amarela de algodão bordada com imagens de um faraó da marca Balmain, criada para a cantora pop Beyoncé.

Estas são as peças que provam que muitos anos depois, os faraós continuam a ser “Superstars” como diz o título da mostra e verdadeiros influencers dos tempos modernos. A mostra pode ser vista no edifício sede da Gulbenkian até 6 de março de 2023.

Além das visitas habituais, João Carvalho Dias sublinhou que esta é uma exposição inclusiva, com “várias estações táteis colocadas no percurso” da exposição que permitem a crianças e invisuais seguirem a visita.