Nasim Aghdam “estava furiosa” com as novas regras do YouTube. Na terça-feira, o “ódio” à plataforma levou-a a pegar numa arma e iniciar um tiroteio na sede da empresa de vídeos. Mas o que fez Nasim ficar tão furiosa com a maior plataforma de distribuição de vídeo online? Aparentemente, as novas regras.
Para percebermos o que tanto enfurecia Nasim e muitos outros produtores de conteúdo que vivem desta plataforma é preciso regressar a Dezembro de 2017 e a um nome: Logan Paul.
Um dos youtubers mais populares do site, com milhões de subscritores e projetos no serviço pago da plataforma, o YouTube Red, fez uma viagem ao Japão e visitou a floresta de Aokigahara, conhecida como floresta do suicídio. De lá, saiu com um vídeo no qual mostrava um corpo de uma pessoa que tinha cometido suicídio.
Estava instalada a controvérsia. Nas redes sociais e nos meios de comunicação tradicionais o gesto de Logan Paul tinha eco.
Ao YouTube pedia-se que fosse feito algo contra atitudes como aquela. A resposta tardou, e veio através de uma série de mensagens no Twitter: “Temos estado a ouvir tudo o que tem sido dito. Sabemos que as ações de um produtor de conteúdo podem afetar toda uma comunidade e, por isso, vamos partilhar em breve alguns passos para garantir que vídeos como este nunca mais voltem a circular”.
As regras vieram logo depois: um novo canal passou a precisar de mil subscritores e quatro mil horas de visualizações nos últimos doze meses para integrar o YouTube Partner Program, o programa que permite gerar lucro através dos vídeos que são exibidos na plataforma. Antes, os canais só precisavam de um total de 10 mil visualizações para começar a fazer dinheiro.
Mas os grandes canais não usam este programa. Estão inseridos naquilo que a Alphabet, empresa dona da Google e do YouTube, chama de Google Preferred, que junta os 5% mais populares da plataforma. Para estes, a seleção passa a ser manual.
Caso os vídeos na plataforma firam os interesses dos anunciantes, o YouTube passa ainda a retira-los da lista de sugestões que surge quando um vídeo acaba.
Tudo, para proteger a plataforma (e os anunciantes, que não querem os seus produtos em vídeos com conteúdo impróprio).
O preço que os pequenos pagaram
A resposta à polémica de Logan Paul por parte do YouTube fez com que muitos dos vídeos que promovem teorias de conspiração e “factos alternativos” deixassem de gerar lucro. Mas isso veio com um preço, e quem o pagou foram as pessoas por detrás dos canais mais pequenos.
Os produtores de conteúdo que falam de temas como “saúde mental” ou outros temas menos atrativos deixam de receber a pequena quantia que recebiam pelos seus vídeos. Os canais geridos "por diversão" deixam de render o quer que seja. Para muitos, a resposta do YouTube serviu somente para acalmar anunciantes preocupados, demonstrando desprezo pelos canais mais pequenos.
Outros, menos moderados, foram mais longe: falavam de uma clara ameaça à liberdade de expressão - ainda que a plataforma não elimine os vídeos, só não exibe publicidade neles nem paga aos donos de canal. Para muitos, como Nasim, a plataforma de vídeo "não dava oportunidades de crescimento iguais" para todos.
Nasim Aghdam terá visto os seus vídeos de exercício físico serem classificados como impróprios. E, furiosa com a empresa que usava para distribuir vídeos, mas que, na sua opinião, agora não lhe queria pagar, decidiu pegar numa arma e entrar na sede da empresa, em San Bruno, na Califórnia. Feriu três pessoas e, no fim, suicidou-se.