António Costa acredita que abriu as portas do mercado indiano
12-01-2017 - 13:48

Costa comentou também o leilão da dívida da passada quarta-feira, considerando que teve resultados razoáveis, mas recusou falar do Novo Banco.

O primeiro-ministro considera que a sua origem goesa facilitou o objectivo de abrir as portas do mercado da Índia e manifestou-se confiante que o Governo indiano quer tornar Portugal uma sua plataforma na Europa.

Estas posições foram assumidas por António Costa perante os jornalistas, em Goa, durante a tarde do seu último dia de visita de Estado à Índia, após ter estado na Sé Catedral e na Basílica de Bom Jesus em Velha Goa e antes de ter sido abençoado no Templo Manguesh, o mais representativo da religião hindu em Pangim, capital do Estado de Goa.

“As minhas origens, claramente, permitiram criar uma empatia que permitiu elevar esta visita à Índia à natureza de Estado e criar uma relação especial com as autoridades indianas, que mostraram um grande interesse na cooperação. Tratou-se sobretudo de virar a página relativamente ao passado”, afirmou o líder do Executivo, numa alusão ao período colonial português.

Também em defesa do carácter especial da sua visita, António Costa alegou que “não foi por acaso que, pela primeira vez, em 40 anos, um primeiro-ministro português visitou Goa”.

“Não é por acaso que podemos agora ter um Centro de Língua Portuguesa num local central de Pangim, com instalações condignas, ao mesmo tempo que se verifica um movimento crescente de aprendizagem do português, quer na universidade, quer nos liceus de Goa. Há agora outro clima entre Portugal e a Índia – e é preciso saber aproveitá-lo”, disse.

Na sequência da invasão de Goa por tropas da União Indiana em Dezembro de 1961, Portugal e Índia apenas restabeleceram relações diplomáticas após o 25 de Abril de 1974. No entanto, na perspectiva do primeiro-ministro, as relações luso-indianas continuaram incipientes.

“Os nossos objectivos com esta visita passaram por uma vertente económica, abrindo portas a mais exportações e à atracção de investimento, e por uma segunda vertente ao nível da cooperação científica e tecnológica. Acho que todos os contactos que tivemos, quer com autoridades políticas, quer nos fóruns empresariais, dão-nos boas perspectivas de que a porta ficou aberta e há disponibilidade para se utilizar essa porta”, defendeu António Costa.

Ainda de acordo com António Costa, para assegurar que há resultados concretos, decidiu que as visitas à China e à Índia seriam logo no início do mandato do seu Governo.

“São visitas que visam abrir um caminho e, como tal, é preciso dar continuidade. Daqui a um ano podemos avaliar melhor esta visita”, advogou o líder do Executivo.

Para já, segundo António Costa, sabe-se que “das autoridades políticas há um enorme empenho e que o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi inexcedível em relação à vontade que tem em utilizar Portugal como um parceiro estratégico para a cooperação com países terceiros”.

“No caso da Europa, na sequência do ‘brexit’, Portugal pode ser a sua plataforma na União Europeia. Penso que há grande interesse em trabalhar com Portugal em áreas como as energias renováveis, na execução de infra-estruturas (área em que o Governo tem um programa de investimento gigantesco), quer rodoviários, quer na gestão de resíduos e da água. São grandes oportunidades para as empresas portuguesas”, apontou ainda António Costa.

Leilão “razoável”

António Costa, voltou também a desdramatizar a evolução da dívida portuguesa nos mercados internacionais, designadamente no prazo a dez anos, e defendeu que o último leilão de quarta-feira teve condições “razoáveis”.

António Costa falava aos jornalistas após visitar a Sé Catedral e a Basílica de Bom Jesus da Velha Goa, na Índia, ocasião em que, porém, se recusou a comentar as posições de políticos e economistas que têm defendido a nacionalização do Novo Banco.

Confrontado com o facto de os juros da dívida portuguesa estarem a atingir os valores mais elevados dos últimos três anos, o primeiro-ministro invocou a conclusão retirada por um conjunto de analistas, segundo a qual o leilão de quarta-feira, face à conjuntura existente, “teve condições razoáveis”.

“O impacto que o leilão teve imediatamente nas taxas de juro foi o da sua redução. Penso que, conforme forem conhecidos os dados fundamentais da nossa economia e das nossas finanças, a evolução continuará positiva”, sustentou.

Interrogado sobre a questão da nacionalização do Novo Banco, António Costa deu a seguinte resposta: “Esse tema não foi abordado aqui em conversa com o senhor arcebispo de Goa”, Dom Filipe Neri.