Modernizar o Estado
23-07-2020 - 06:52

Os trabalhadores do Estado, civis e militares, têm por missão servir-nos, a nós, que vivemos e trabalhamos fora do Estado. Por isso, não lutarmos por uma administração pública mais eficiente, o que implica ser melhor paga, é prejudicarmo-nos a nós próprios.

Pela quinta vez, migrantes vindos do Norte de África desembarcaram no Algarve. Não sei se ali existe, ou não, uma nova rede de traficantes de seres humanos. Mas é manifesto que a guarda da costa algarvia, em terra e no mar, é insuficiente. Até porque se trata de uma fronteira externa da UE.

Este é apenas um pormenor das deficiências do Estado português, em áreas da sua exclusiva responsabilidade. Como é o lento funcionamento da justiça. Ou as baixas remunerações das forças de segurança.

O consultor do Governo, António Costa e Silva, deixou esta semana bem claro que, se a administração pública portuguesa continuar sem se modernizar e simplificar, o seu plano não servirá para muito.

A sociedade portuguesa sempre viveu muito encostada aos poderes públicos. Durante décadas, obter um emprego significava arranjar um posto de trabalho na função pública. Ora a pandemia veio colocar o Estado no centro das atividades económicas. Tornou-se uma necessidade imperiosa, que se espera temporária.

A resposta do Estado à pandemia no plano da saúde até tem sido melhor do que se receava. Mas à custa de muito sacrifício dos profissionais do sector, pelo que se torna indispensável investir mais no Serviço Nacional de Saúde.

As falhas na administração pública sentem-se, sobretudo, ao nível dos quadros qualificados. Muitos destes preferem trabalhar no sector privado, onde os salários são mais altos, e abandonam a função pública. Claro que é mais popular aumentar os vencimentos dos funcionários que ganham menos, mas nem sempre essa é a orientação certa.

Entre nós há uma vaga de críticas aos funcionários públicos, por terem o seu emprego garantido (na maior parte dos casos) e não terem sofrido com a austeridade tanto como a generalidade dos trabalhadores privados.

Quem assim pensa ignora que os funcionários públicos e em geral os trabalhadores do Estado, civis e militares, têm por missão servir-nos, a nós, que vivemos e trabalhamos fora do Estado. Por isso, não lutarmos por uma administração pública mais eficiente, o que em geral implica ser melhor paga, é prejudicarmo-nos a nós próprios.