Pedido do Papa para a JMJ: "Quero evangelização, não quero conferências. Isso já eles têm de mais"
22-07-2022 - 06:00
 • Ângela Roque , Maria Costa Lopes (vídeo)

D. Manuel Clemente diz que a Jornada Mundial da Juventude vai ajudar a rejuvenescer a Igreja em Portugal, que está toda envolvida na preparação. E que, se depender só da vontade do Papa, Francisco estará em Lisboa e Fátima em 2023.

Veja também:


“Quero evangelização, não quero conferências. Isso já eles têm de mais”. Este foi um dos pedidos do Papa Francisco aos organizadores da Jornada Mundial da Juventude, que decorre em Lisboa em 2023. A revelação é feita pelo cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, em entrevista à Renascença.

Esteve recentemente no Vaticano a acompanhar um grupo de sacerdotes ordenados na diocese de Lisboa nos últimos anos, e houve um encontro com o Papa. Sentiu entusiasmo de Francisco relativamente à Jornada?

Sim, sempre! Ele fala logo nisso. E quando perguntamos se vem, atendendo ao seu estado de saúde, às dificuldades de mobilidade, ele diz logo: 'o Papa vai'. O Papa é uma entidade, pode ser ele ou pode ser outro. Nós acreditamos que seja ele, porque vontade não lhe falta.

Recordo-me quando fui à Jornada Mundial de 2002, em Toronto, o Papa era João Paulo II, estava muito mais imóvel do que está hoje o Papa Francisco, e participou em cadeira de rodas, não foi por causa disso que deixou de fazer a Jornada e deixou de lá estar.

Portanto, mesmo que haja alguma fragilidade daqui a um ano, a vontade do atual Papa é vir? Foi isso que sentiu?

Ah sim! Vontade desde o primeiro momento e sempre repetida. Até porque o Papa espera que esta Jornada seja um momento de desanuviamento para a juventude mundial, numa fase que esperemos já seja pós pandémica.

E a ida a Fátima? Há novidades em termos de data?

Ainda não está marcada no horário do programa, mas é relativamente fácil. Como já aconteceu com o Papa Bento XVI, que foi de helicóptero de Fátima para o Porto, ou como aconteceu com o Papa Francisco, que veio de helicóptero de Monte Real para Fátima, é um pulinho.

O Papa terá, com certeza, ocasião de ir a Fátima, e ao gosto dele possivelmente ainda a outro sítio. Nunca se sabe, mas com o Papa Francisco as surpresas são sempre possíveis e mesmo à última hora. Mas, a Fátima desde o princípio que ele manifesta essa vontade e esse gosto, e não seria de esperar outra coisa.

As dioceses estão envolvidas na preparação da JMJ, algumas têm uma colaboração mais próxima, até no acolhimento que vão fazer, como é o caso de Santarém e de Setúbal. Mas, sente que a Igreja em Portugal está envolvida, toda ela, neste acontecimento?

Sim. Posso até dar esta nota pessoal: sou neste momento o bispo diocesano mais antigo em exercício no país, estou na Conferência Episcopal desde o final de 99, e desde o princípio que encontro da parte dos bispos portugueses uma grande vontade de que alguma vez acontecesse uma Jornada em Portugal.

Tinha de haver um espaço para albergar um milhão, ou mais, de pessoas - só para dar uma ideia, o Santuário de Fátima leva 200 a 300 mil pessoas. E não é só o espaço, é tudo o que está à volta: haver autoestrada, haver linha internacional de caminho de ferro, haver aeroporto (vamos lá ver como é que o nosso funciona na altura), haver uma centena ou mais de igrejas numa área restrita onde se possam fazer as catequeses, toda esta logística. É tudo tão gigantesco, que começámos a fazer contas e a olhar para o país, e onde é que isto poderia ser?

Depois, em Espanha, tinha havido uma Jornada em Santiago de Compostela e outra em Madrid, não sabíamos quando ia voltar à Península Ibérica. Felizmente houve esta possibilidade, a candidatura fez-se e resultou. Mas, era uma vontade que havia há muito tempo da parte do episcopado português, que aderiu.

Também não poderia fazer-se de outra maneira: as condições que a Santa Sé pôs, prévias ainda à formalização da candidatura, eram a concordância - e concordância ativa - quer do episcopado português, quer das entidades oficiais, porque sem uma coisa e outra, não se podia fazer.

Nas consultas feitas no âmbito do Sínodo para a Sinodalidade - que também vai decorrer em 2023 – muitos jovens manifestaram o desejo de ser mais ouvidos e participarem mais na Igreja. As Jornadas também contribuem para isso?

E não é só daqui a um ano, é já! Para além do Comité Organizador Local (COL), aqui em Lisboa, as Jornadas estão a ser preparadas nas comunidades, nos Comités Organizadores Paroquiais (COP), nas Vigararias, com os Comités Organizadores Vicariais, e depois nas dioceses, com os Comités Organizadores Diocesanos. Estamos a falar já de dezenas de milhar de jovens envolvidos.

Ora, alguém pensa que depois de um ano treinados a fazer qualquer coisa de grande e importante em conjunto, que vão regressar a casa da mesma maneira, como se já não houvesse mais nada para fazer? Muitos deles e delas vão é descobrir o que é que é realmente participar na Igreja e no rejuvenescimento da Igreja, com aquilo que a sua geração traz. E não é uma conferência sobre isso, é uma prática, e uma prática esforçada.

Estamos a contar que daqui a uns meses tenhamos dezenas de milhar de voluntários a trabalhar nas Jornadas. Isto é algo incomensurável, que nós, à escala portuguesa, nunca fizemos, nem estamos habituados a pensar. Estamos habituados a ver, de vez em quando, um evento desportivo ou musical trazer milhares de pessoas, mesmo dezenas e centenas de milhar, mas é um acontecimento de um dia, dois dias. Isto aqui é completamente diferente, trata-se de uma semana de convivência de milhares e milhares de jovens de todo o mundo. Num país com 10 milhões de habitantes, chegar um milhão, é um décimo a mais da população concentrada num espaço relativamente pequeno.

É essa a sua expectativa?

Com certeza. E isto de certeza que trará uma nova maneira de ser Igreja, porque na prática é o que está a acontecer.

Quando o Papa falou comigo acerca da Jornada, ele disse: "eu quero evangelização, quero ação, missão, em nome de Cristo. Não quero conferências, isso já eles têm de mais!". Ora, o que está a acontecer é uma enorme mobilização, com objetivos concretos que são verdadeiramente evangélicos.

Vai ser certamente um grande motivo de rejuvenescimento da Igreja em Portugal, porque esta gente ganhou experiência, e não foram dias, estamos a falar de meses de preparação.