Portugal teria fatura energética das mais baixas do mundo se tivesse optado pelo nuclear
24-11-2021 - 21:00
 • Pedro Mesquita

Numa altura em que a França anunciou a intenção de apostar no nuclear como estratégia para garantir a neutralidade carbónica até 2050, especialistas portugueses dizem que a oportunidade portuguesa já passou. A solução, para Portugal, é apostar nas renováveis. Pedro Sampaio Nunes acredita que basta a Portugal preencher 0,3% da sua superfície terrestre com fotovoltaicas para assegurar toda a eletricidade de que necessita.

Os portugueses poderiam ter uma das faturas de eletricidade mais baixas do mundo se, no passado, o país tivesse apostado na energia nuclear.

A tese é defendida em declarações à Renascença por Pedro Sampaio Nunes, especialista em energia nuclear que, em 2006, defendia a instalação de uma central nuclear em Portugal.

“Se nós tivéssemos feito aquilo que é correto, teríamos neste momento dos preços mais baixos do mundo, se tivéssemos aderido ao nuclear”, refere Sampaio Nunes que, contudo, admite que, nesta altura, faz pouco sentido retomar essa ideia em Portugal.

Esta semana, o Presidente francês, Emmanuel Macron apontou a aposta no nuclear como a melhor estratégia para garantir a neutralidade carbónica até 2050, sem, com isso, comprometer as necessidades energéticas futuras do país.

No caso português, a ideia de uma central nuclear “fez sentido em 2006. Aliás, tínhamos investidores e financiadores e, nessa altura, fazia todo o sentido”.

Renováveis asseguram até 65% da eletricidade consumida em Portugal

Quando compara a situação portuguesa à intenção manifestada pela França, Sampaio Nunes acrescenta que Portugal tem “uma sobre capacidade instalada com energia eólica e uma vaga de intenções de investimento em energia fotovoltaica. Por isso, neste momento, não havia capacidade de mobilizar investidores e financiadores para uma tecnologia que tem custos iniciais muito elevado, que tem um período de licenciamento muito longo e muito caro e que exige investimentos pesados durante a construção”.

Leitura idêntica faz João Peças Lopes, professor catedrático da Faculdade de Engenharia do Porto e diretor associado do INESC-TEC.

Para este investigador, “não faz sentido incluirmos uma central nuclear no portefólio electroprodutor português”, porque “60 a 65% da eletricidade que consumimos tem origem em fontes renováveis”, daí que, segundo diz, “uma aposta na energia nuclear para a produção de eletricidade em Portugal, não faz qualquer sentido, porque, atualmente nós temos um sistema electroprodutor que já há uns anos iniciou uma trajetória de aposta nas energias renováveis para a produção de eletricidade. Falo da energia eólica, da hidroeletricidade, das biomassas e, mais recentemente, da produção solar fotovoltaica”.

Perdida a oportunidade de apostar na energia nuclear, Peças Lopes e Sampaio Nunes convergem para a ideia de que uma aposta nas energias com origem no vento e no sol será a mais sustentável para Portugal, e também a que mais irá baixar a fatura da eletricidade ao fim do mês.

João Peças Lopes mostra-se mais favorável às fotovoltaicas, porque não há muito mais espaço em terra para torres eólicas.

Já Sampaio Nunes acredita que bastará a Portugal preencher 0,3% da sua superfície terrestre com fotovoltaicas para assegurar toda a eletricidade de que precisamos.