O Banco de Portugal e o Fundo de Resolução não excluem a possibilidade de negociar com nenhum dos cinco concorrentes envolvidos desde início no processo de venda no Novo Banco.
Do ponto de vista “formal” a possibilidade existe. Contudo, embora os vendedores admitam que até o BCP e o BPI ainda possam vir a reentrar na corrida já não é provável que o consigam em tempo útil.
Quanto à posição da Apollo/Centerbridge (embora o fundo norte-americano não tenha sido indicada como posicionada em primeiro lugar, nem tenha apresentado nenhuma proposta integralmente vinculativa) nada impede que ainda possa vir a ganhar “ao sprint”.
Outra hipótese ainda em cima da mesa é a possível entrada de um parceiro português (ligado à família Violas), mas a equipa de Sérgio Monteiro ainda não foi “oficialmente” notificada de tal associação, que pode ser um elemento que tornaria mais atraente a proposta de compra do Novo Banco pelo Fundo Apollo.
A Renascença soube, contudo, junto de fontes do processo, que a entrada no consórcio ainda será possível e, se a proposta final apresentada vier a tornar-se vinculativa, nada impede que ela possa destronar a da Lone Star, uma vez que todos os “interessados foram desafiados a melhorar as respectivas propostas”.
As negociações com o fundo Apollo ganharam apenas uma nova dinâmica a partir de 30 de Dezembro. A concorrente que tinha saído dos radares mediáticos depois de falhada a primeira tentativa de venda do Novo Banco nunca deixou, no entanto, de acompanhar a par e par o processo de venda, vindo a melhorar continuamente a sua proposta – embora ainda não a tenha tornado vinculativa, até ao momento.
Para a Apollo, o grande adversário era a concorrente chinesa cuja proposta era tida como inalcançável. Quando esta concorrente não apresentou as garantias financeiras exigidas e o adversário se tornou noutro fundo de investimento, a Apollo decidiu voltar a jogo e melhorou a proposta logo a 4 de Janeiro.
“Chantagem”
A pressa em indicar a Lone Star como a melhor posicionada para a venda, por parte do Banco de Portugal, que, neste contexto não parece fazer muito sentido, ficou a dever-se ao facto de a Lone Star ter feito saber na imprensa que a 4 de Janeiro expirava a sua proposta.
O prazo, embora fosse do conhecimento do Fundo de Resolução há mais de três meses, foi entendido como “uma forma de chantagem” para forçar os vendedores a fazer um primeiro pronunciamento que lhes fosse favorável.
A Lone Star tinha, como os restantes concorrentes, sido avisada que o Governo juntara às condições iniciais de “não impacto nas contas públicas” uma segunda condição bem mais restritiva: a recusa de novos encargos para os contribuintes ou outros impactos nas responsabilidades do sistema financeiro para com o Fundo de Resolução. Uma condição que inviabilizava aceder ao pedido da Lone Star de criação de um “sistema de garantia e contra-garantia do Estado”. O Banco de Portugal, ao fazer o comunicado de quarta-feira à noite que a aponta como melhor posicionada, não a declara vencedora, mas estende o prazo da vinculação.
Neste momento, apenas os candidatos chineses do China Minsheng (que não conseguiu, até ao momento, as garantias financeiras requeridas em virtude da crise económica que afectou recentemente a economia da China) e a Lone Star preenchem todos os requisitos contratuais que permitiriam a venda imediata do Novo Banco.
É sabido que a Lone Star, embora seja um fundo ligado ao imobiliário especialista em comprar para recuperar e vender com mais-valia, se obriga a manter intacto o Novo Banco, mas pretende desfazer-se do total dos restantes activos que não fazem parte do negócio bancário.
Quanto ao Apollo (também considerado um “fundo abutre”), uma vez que já é dono da Tranquilidade e da seguradora Açoreana, pode ver no acesso à rede de retalho do Novo Banco uma mais-valia importante de reforço para a venda dos respectivos seguros .
O cenário da nacionalização
O ministro das Finanças, Mário Centeno, insiste na quase impossibilidade de não agravar os custos para os contribuintes, o que poderá, inclusivamente, reforçar os que defendem a nacionalização em alternativa a uma venda por um valor muitíssimo abaixo dos 3.900 milhões que o Fundo de Resolução gostaria de reaver para o Estado.
Esta solução, que não está ainda totalmente excluída, pelo próprio Governo, obrigaria sempre o Governo a fazer uma nova e intensa negociação em Bruxelas tão mais dura quanto mais directa fosse essa nacionalização.
Em qualquer caso, nem nesse cenário seria certo a ausência de mais custos para os contribuintes uma vez que, caso o Estado se torne accionista directo a 100%, terá de se vincular no futuro a fazer face a todas as necessidades de reforço de capital futuro.