Golpes de Estado em África
08-09-2023 - 06:30
 • Francisco Sarsfield Cabral

Os golpes de Estado na África Central e Ocidental têm sido acompanhados de um crescente sentimento hostil a França. E a Rússia explora esse sentimento através do grupo Wagner.

Sucedem-se os golpes de Estado na África Central e Ocidental, onde militares derrubam presidentes e governos; no Mali até ocorreram dois golpes, um em agosto de 2020 e outro em maio de 2021. O mais recente golpe de Estado aconteceu há dias, no Gabão.

Em vários países africanos onde não funciona a democracia, ou funciona mal, a intervenção das forças armadas é praticamente a única maneira de concretizar uma mudança política. A pobreza da maioria dos países da África Central e Ocidental parece difícil de combater, apesar de muitos desses países terem petróleo e importantes minerais. Em muitos casos onde há eleições elas não são livres nem justas, eternizando-se no poder políticos e até famílias.

Daí a insatisfação das populações e o apelo aos militares. O problema é que estes, se bem que prometam em geral o regresso à democracia, manifestam alguma ingenuidade política, como aconteceu agora no Gabão – o novo presidente interino, um general, garantiu que o “tempo da felicidade” tinha chegado ao país.

Por outro lado, a vaga de golpes de Estado está de algum modo associada a um sentimento hostil a França, país que colonizou grande parte da África Central e Ocidental. Mas há mais de 60 anos que os países daquela zona se tornaram independentes. É verdade que, depois da descolonização, a França manteve forças militares em vários daqueles países, só que esses contingentes foram sendo reduzidos nos últimos anos. O papel dos militares franceses tem sido, sobretudo, tentar proteger as populações face ao terrorismo islâmico.

Do lado francês, chama-se a atenção para que muitos desses problemas já foram ou estão em vias de ser ultrapassados. O discurso anti francês é, assim, considerado em Paris como um “bode expiatório” para as frustrações económicas e políticas da África Central e Ocidental.

Mas há quem explore essas frustrações em benefício da Rússia. Tem sido esse o papel do grupo Wagner. Depois do que aconteceu ao seu líder, Prigozihn, não é seguro que o grupo Wagner prossiga a sua campanha anti ocidental em África. Mas é provável que continue, pelo menos enquanto Putin estiver no Kremlin.