Ministro satisfeito com testes PISA, mas preocupado com elevada taxa de retenção nas escolas
06-12-2016 - 14:22

No relatório divulgado esta terça, os alunos portugueses conseguiram pela primeira vez resultados "significativamente superiores" à média da OCDE em ciências e leitura.

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O ministro da Educação mostrou-se satisfeito esta terça-feira com os resultados positivos de Portugal nos testes PISA em ciências, leitura e matemática, mas considerou que o país tem de melhorar nos níveis de retenção escolar.

"Em Portugal mais de 30% dos jovens com 15 anos já apresentam uma retenção no seu percurso escolar e ainda demasiados deles, demasiados de nós, apresentam mais do que uma retenção", salientou Tiago Brandão Rodrigues.

O governante falava em Sintra, na apresentação do relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, na sigla em inglês), estudo internacional que avalia os conhecimentos dos alunos de 15 anos em matemática, leitura e ciências.

"Estamos, infelizmente, numa montra em que não queremos estar, em que não nos podemos dar ao luxo de estar: o dos três países da OCDE que apresentam maior taxa de retenção entre as mais de sete dezenas de países ou economias que este relatório analisa, quase triplicando a taxa média da OCDE, que ronda os 13%", apontou o ministro.

“Tem custos anímicos, simbólicos e sociais brutais, mas tem também custos financeiros igualmente enormes, que rondam os 250 milhões de euros anuais. E tem, como sabemos, um mísero retorno, em qualquer destes níveis, pois nem responde ao insucesso nem ajuda ao sucesso", vincou.

O ministro defendeu a necessidade de um "esforço pedagógico e lectivo adicional" para combater os níveis de retenção, no sentido de assegurar que seja atingida "a meta de 105 de redução do abandono escolar precoce" em 2020 e reduzidas as taxas de retenção para metade.

"Esta situação agrava-se quando constatamos que Portugal está entre os países cujas retenções estão mais associadas ao contexto socioeconómico dos estudantes, mesmo entre estudantes com um nível de desempenho semelhante no PISA", sublinhou Tiago Brandão Rodrigues, acrescentando que a situação atinge também os alunos imigrantes.

Alunos portugueses conseguiram resultados superiores à média da OCDE

O PISA, promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), é coordenado em Portugal pelo IAVE - Instituto de Avaliação Educativa e, no relatório divulgado esta terça-feira, os alunos portugueses conseguiram pela primeira vez resultados "significativamente superiores" à média da OCDE em ciências e leitura.

"Quando analisamos apenas os jovens de 15 anos, no 9º e 10º anos de escolaridade, os resultados são muito superiores à média da OCDE, o que mostra a qualidade e exigência do sistema educativo português", frisou Tiago Brandão Rodrigues.

O comissário europeu da Educação destacou hoje, em Bruxelas, o desempenho de Portugal nos testes PISA em ciências, leitura e matemática, apontando que se trata do único país da União Europeia que tem melhorado sempre desde 2000.

Numa conferência de imprensa conjunta com o secretário-geral adjunto da OCDE, Douglas Frantz, na sede do executivo comunitário, para apresentar os dados de PISA, o comissário Tibor Navracsics comentou que "é útil olhar e aprender com os dois únicos países que foram capazes de reduzir as taxas de alunos com fraco aproveitamento em ciências, leitura e matemática: Suécia e Portugal".

"De facto, Portugal é o único país da UE que tem melhorado de forma continuada o seu desempenho em PISA desde 2000", sublinhou, acrescentando que esta é a primeira vez que o estudo compreende todos os 28 Estados-membros da União.

O comissário europeu acrescentou que, "ainda que muito diferentes, tanto Suécia como Portugal trabalharam muito para reformar os seus sistemas educativos ao longo dos últimos anos", designadamente ao nível da formação de professores.

IAVE: “A retenção é um problema crónico”

O presidente do IAVE, Hélder Sousa, à margem da apresentação do relatório do PISA, na Escola Secundária de Santa Maria, em Sintra, reconheceu que "a retenção é um problema crónico" e que passa "por diferentes governos".

"É algo que recentemente começa a ser olhado com outra preocupação e é preciso ser olhado numa perspectiva muito construtiva, ou seja, a retenção não se resolve do ponto de vista administrativo, passando os alunos só por passar", afirmou o responsável.

A solução passa por conseguir "criar condições para que os alunos muito precocemente, eventualmente no primeiro ciclo, comecem a ser acompanhados e comece a ser feito o despiste de quais são os problemas de aprendizagem que têm".

O ministro da Educação destacou que, apesar das mudanças de orientação política no sector, o relatório do PISA evidencia que "há também um caminho que se fez de aprofundamento e de continuidade na qualidade da oferta do sistema educativo".

Tiago Brandão Rodrigues anunciou que Portugal vai voltar a participar no estudo da OCDE que avalia competências de adultos (o PIAAC - Programme for International Assessment of Adult Competencies), que integrou de 2008 a 2012.

“Pensar cientificamente” não é só para cientistas

O governante mostrou-se ainda satisfeito com os resultados na área científica, porque "o 'pensar cientificamente' não é apenas apanágio dos cientistas, mas é sim uma competência fundamental para todos os cidadãos e profissionais no mundo actual".

O principal domínio avaliado nesta edição foi a literacia científica, em que Portugal mais se destacou, ao obter uma classificação de 501 pontos (superando os 459 pontos no ano 2000, 468 em 2003, 474 pontos em 2006, 493 pontos em 2009 e 489 em 2012), numa escala de zero a 1.000.

Além dos 501 pontos em literacia científica, os alunos portugueses conseguiram atingir 498 pontos em leitura e 492 pontos em matemática.

O IAVE sublinhou que Portugal ocupou a 17.ª posição na escala ordenada dos resultados em ciências, quando considerados os países membros da OCDE, e ficou em 18º lugar na avaliação de leitura e em 22º na matemática.