A estrela da companhia
12-01-2017 - 13:28
 • Susana Madureira Martins

António Costa podia ter cancelado a visita de Estado à Índia? Podia, mas não era a mesma coisa.

A morte de Mário Soares abalou a comitiva, o primeiro-ministro decidiu continuar a viagem à India e percebeu-se depois porquê. As autoridades indianas – Presidente da República e primeiro-ministro – multiplicaram-se em cortesias, fizeram de António Costa convidado de honra e protagonista de diversos eventos. O chefe de Governo português foi tratado com honras de Chefe de Estado.

Sendo assim, era impossível virar costas; em seis dias foi preciso entrar no jogo e responder. O primeiro-ministro tornou-se a estrela da companhia indiana.

Por duas vezes Costa deixou que fosse investido com turbante, capa e colar regionais do Estado de Karnataka; recebeu um prémio da diáspora pelas mãos do próprio Presidente da República indiano que elogiou o trabalho do primeiro-ministro português pelo serviço público que tem prestado em nome da comunidade indiana.

E várias vezes, como resposta a estas delicadezas, António Costa mostrou publicamente o documento que comprova isso mesmo, o estatuto de pessoa com origem indiana.

Sim, a morte de Mário Soares marcou esta visita de Estado de António Costa à Índia. Marcou porque provocou a necessidade de um golpe de asa. A expectativa indiana nesta visita foi proporcional à portuguesa. O que fazer a quilómetros de estrada em Bangalore com centenas de cartazes e fotografias que anunciavam a presença de Costa na Índia? Continuar.

A alteração mais evidente nestes dias foi o regresso antecipado do ministro dos Negócios Estrangeiros a Lisboa e as cerimónias foram coordenadas à distância pelo gabinete do primeiro-ministro, que preparou grande parte da logística das cerimónias fúnebres a milhares de quilómetros e a seis horas de diferença de distância.

Valeu a pena ficar? A cortesia indiana prestada a esta espécie de filho pródigo a isso obrigou. Quanto a resultados e a negócios falamos depois, o tempo o dirá. António Costa fala desta visita, à semelhança da que fez à China, em Outubro, como de uma “semente” que há-de dar fruto, mas sem prazo.

O potencial de emoção que a visita tinha, por ser um regresso às origens, confirmou-se, Costa foi tratado como um filho da terra e retribuiu. Mas quem esperava que esta fosse “A” viagem de António Costa como primeiro-ministro, enganou-se. Foi o recomeço de uma bela amizade com a Índia. A ver o que dá.