Marcelo diz que os números da pandemia "sobem sempre mais depressa do que descem". Não é bem assim
26-02-2021 - 18:51
 • Inês Braga Sampaio , Miguel Coelho

Na terceira e atual vaga da pandemia da Covid-19, os números de novos casos diários e internamentos (enfermaria e UCI) e a incidência contrariam as palavras do Presidente da República.

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O Presidente da República disse na comunicação de quinta-feira ao país, a propósito da renovação do estado de emergência, que os números da pandemia da Covid-19 subiam sempre mais rapidamente do que descem, mas a realidade dos dados contraria a ideia avançada por Marcelo Rebelo de Sousa.

“Nós sabemos que os números sobem sempre mais depressa do que descem”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, como justificação para a manutenção do confinamento geral, ainda sem quaisquer alívios. Um dado que está factualmente errado.

O termo decisivo, neste caso, é “sempre”. Se na primeira vaga alguns dos parâmetros respeitaram o comportamento constatado pelo Presidente, e se na segunda todos os números subiram, de facto, mais rapidamente do que desceram, tal não se verifica nesta terceira vaga.

A Renascença analisou quatro parâmetros: número de casos diários, número de pessoas internadas em enfermaria, número de internamentos em unidades de cuidados intensivos (UCI) e incidência (novos casos por semana por 100 mil habitantes). Em todos, constata-se que os números da pandemia do novo coronavírus foram bastante mais rápidos a descer do que a subir.

Relativamente aos novos casos diários, nesta terceira vaga, o pico foi a 28 de janeiro de 2020, com 16.432. A última vez, antes disso, que se tinham registado menos de dois mil casos fora a 27 de dezembro (1.577). A primeira vez, depois, que os novos diagnósticos desceram da barreira dos dois mil foi a 14 de fevereiro (1.677). Ou seja, demorou 24 dias a subir e 17 a descer.

Quanto ao número de internados em enfermaria com Covid-19, o máximo foi atingido a 1 de fevereiro, com 6.004. Antes disso, a última vez que se tinha registado um número inferior a 2.500 fora a 2 de janeiro (2.366). Só voltou a haver menos de 2.500 pessoas internadas a 23 de fevereiro (2.415). A subida demorou 30 dias e a descida demorou 22.

No caso dos internamentos em UCI, o pico registou-se a 5 de fevereiro, com 904. Só depois de 8 de janeiro (536) o número ultrapassou os 540 e foi apenas a 25 de fevereiro (536) que voltou a descer dessa marca. Logo, foram 28 dias para chegar ao topo e outros 20 para descer.

No que toca à incidência, o número máximo de novos casos por 100 mil habitantes verificou-se na semana de 25 a 31 de janeiro de 2021, com 1.649,4. Antes disso, só se tinha registado menos que 500 entre 21 e 27 de dezembro de 2020 (465,4). Depois, só se desceu dessa marca entre 15 e 21 de fevereiro (287,6).

Marcelo Rebelo de Sousa renovou o estado de emergência até 16 de março, na quinta-feira, com o argumento de que o desconfinamento acelerado “por cansaço” transmitiria “um sinal errado de facilidade”.

"Nunca se pode dizer que não há recaída ou recuo e os números que nos colocaram no lugar de piores da Europa e do Mundo não são de há um ano ou de há meses, são de há um mês. Tal como de há três semanas são as filas de ambulâncias à porta dos hospitais”, frisou.

O Presidente da República sublinhou que "desconfinar seria redutor" e que é necessário "ganhar até à Páscoa e o verão e o outono deste ano".

“A Páscoa é um tempo arriscado para mensagens confusas e contraditórias, como, por exemplo a de abrir sem critério antes da Páscoa, para nela fechar logo a seguir, para voltar a abrir depois dela. Quem levaria a sério o rigor pascal?”, questionou.

“Nunca se confunda estudar e planear com desconfinar”, avisou Marcelo: "Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.”