Ela quer ser primeira-ministra da Tailândia, mas o irmão não deixa
08-02-2019 - 19:05
 • Filipe d'Avillez

Caso se candidate por um partido que se tem oposto à monarquia, a princesa Ubolratana estará protegida por leis que defendem a família real de críticas, complicando seriamente a campanha política.

Uma mulher de 67 anos arrisca-se a provocar o caos na política da Tailândia com a sua candidatura ao cargo de primeira-ministra.

A candidatura de Ubolratana Rajakanya Sirivadhana Barnavadi foi anunciada esta sexta-feira pelo partido que é leal ao ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra. Ubolratana é conhecida pelo povo tailandês por várias razões, incluindo a sua carreira de atriz, mas o que está a provocar celeuma é outro detalhe, nomeadamente o facto de ser irmã do Rei.

Ao contrário do que se possa pensar, porém, a candidatura da princesa não faz parte de um esquema por parte dos defensores da monarquia para garantir o controlo de todas as instituições. Pelo contrário, o partido pela qual se candidata tem sido um espinho no lado do regime há anos e o próprio Rei Maha Vajiralongkorn já disse publicamente que a candidatura é “inapropriada”.

Com a oposição pública do monarca o mais provável será o abandono da corrida ao Governo, mas neste momento isso ainda não aconteceu. A confirmar-se, porém, a entrada da princesa na vida partidária promete complicar muito a cena política em Banguecoque.

O partido Thai Rak Thai, fundado por Thaksin Shinawatra, está envolvida há anos num braço de ferro com a monarquia tailandesa. O TRT chegou a ocupar o poder, mas Shinawatra foi deposto por um golpe militar liderado por forças leais à Família Real. A convulsão social dividiu o país, com os apoiantes de Shinawatra a envergar t-shirts encarnadas e os apoiantes da monarquia a usar t-shirts amarelas, a cor da Família Real.

Uma das armas que tem sido usada contra os críticos da monarquia são as leis, muito rigorosas, que proíbem qualquer crítica à instituição e à família real. Mas essas leis abrangem também a princesa Ubolratana, o que a tornaria praticamente inatacável na sua corrida ao cargo de primeiro-ministro.

Esta sexta-feira o Rei Maha Vajralongkorn recordou que tradicionalmente a família real não se imiscui na vida política partidária e que por isso a candidatura da sua irmã era “inapropriada”, uma crítica aparentemente suave mas que acarreta um grande peso numa sociedade tradicional como a tailandesa.

Ubolratana é mais velha que o seu irmão, o Rei Maha Vajiralongkorn, mas teve uma vida acidentada. Casou com um americano, sendo por isso obrigada a renunciar aos seus privilégios reais, mas depois de ter três filhos divorciou-se e regressou à Tailândia. Antes desta decisão de enveredar pela política, descrita por um português que conhece bem a realidade tailandesa como “um erro monumental de vedetismo que pode afetar profundamente a imagem da família real”, a princesa participou como atriz numa telenovela e num filme, para além de ter mantido uma ativa vida social e ser uma constante presença nos meios de comunicação social tailandeses.