O cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, um dos mais jovens do Colégio Cardinalício, celebra esta segunda-feira um ano como cardeal, destacando que este tempo tem sido de “adaptação a uma realidade que nenhum de nós espera, nem de nenhum de nós está preparado”.
“Vamo-nos convertendo, vamo-nos adaptando”, diz D. Américo, acrescentando que “a principal questão que me condiciona, por vezes, tem a ver com a espontaneidade de uma resposta, ou de uma partilha, ou de um gesto, que tenho de ter consciência que, nesta circunstância, posso estar a vincular negativamente, ou vincular sem ter razão para isso, qualquer posicionamento do Santo Padre, ou até da Igreja, atendendo a que sou cardeal”.
“Tirando isso, é uma preparação que eu acho que dura até ao fim da vida”, assinala.
Para o bispo de Setúbal, a maior “riqueza” do colégio cardinalício é a sua “diversidade”, algo que o Papa Francisco e os últimos Papas tentaram fazer.
“Vamos fazendo parte de um grupo que é tão representativo do mundo, e os últimos Papas foram fazendo um esforço para que os cardeais viessem das proveniências mais diversas. E o Papa Francisco tem-nos surpreendido, com alguns como eu, enfim...”, nota D. Américo Aguiar.
Recentemente, o Papa escreveu a todos os cardeais a pedir ajuda na implementação da reforma da Cúria, e nomeadamente numa urgente contenção de gastos na sua vida e na vida da Igreja.
Na visão de D. Américo, “todos nós temos que despertar para esta nova realidade, que também nos convida a uma vida mais simples, mas também convida a termos consciência da corresponsabilidade”.
“E eu sou corresponsável por aquilo que são as necessidades da Igreja da Roma. Qualquer paroquiano de Setúbal deve sentir-se responsável, corresponsável, por aquilo que é a vida da diocese”, exemplifica.
O bispo de Setúbal lamenta que, “em muitos sítios, em muitas geografias, deixou-se de ter consciência disto e deixou-se de praticar esta corresponsabilidade, que o Papa nos chama agora de um modo especial a atenção”, lembrando que “o Papa Francisco, desde que chegou, pede que a Cúria Romana entenda que está ao serviço das dioceses do mundo e não uma interpretação que porventura poderia existir que as dioceses do mundo estivessem ao serviço de Roma”.
Para o prelado a maior transparência pedida pelo Papa Francisco pode ajudar na estabilização da relação do Povo de Deus em todo o mundo com o Vaticano.
D. Américo Aguiar encontra-se no Vaticano onde vai participar no Sínodo dos Bispos, a convite do Papa.
“Agora é um batismo, é um batismo de sínodo, nesta circunstância de cardeal. Estarei de corpo inteiro, o coração dividido, certamente, entre Roma e Setúbal, para aquilo que vai acontecer no mês de outubro, e rezando para que tudo corra da melhor maneira e que possamos ir ao encontro daquilo que o Espírito diz à Igreja para os tempos de hoje”, conclui.