Mal a proposta surge (e às vezes até antes) há logo um enorme coro de comentadores (para não falar de entidades partidárias, mas aí há justificação) a queixar-se de que o orçamento não presta e que era muito melhor se aumentasse aquilo e descesse aqueloutro. Isto, qualquer que seja a cor do governo e qualquer que seja a margem de manobra que esse mesmo governo tenha para decidir.
Vai-se depois a ver as propostas destes treinadores de bancada (é patente a semelhança com os “treinadores” que surgem mal o verdadeiro selecionador apresenta o elenco de convocados) e chega-se à conclusão que, salvo honrosas exceções, se resumem na maior parte de casos a uma preferência puramente subjetiva, sem eco geral e que não resistem à mais elementar análise técnica.
Esquecem-se duas coisas importantes:
- dada a escassez crónica de meios e as limitações da dívida pública, um orçamento é sempre um compromisso entre objetivos e não vale muito a pena carpir-nos por não haver recursos ilimitados
- em segundo lugar, em Portugal a diferença entre o orçamento que é aprovado e o orçamento que é executado é normalmente grande, o que é inaceitável e aqui, sim, conviria estar muito atento. Contudo, passado o foguetório da apresentação, pouca gente dá o devido relevo a esta diferença (como também não liga nenhuma à execução final do orçamento do ano anterior).
Uma proposta orçamental, do ponto de vista económico, deve ser apreciada segundo três eixos: compatibilidade com o cenário macroeconómico quer de curto quer de médio prazo; afetação de recursos entre os diversos domínios da economia; efeitos na distribuição e redistribuição de rendimentos.
Com base nesta grelha de avaliação, mais uma vez desalinho do coro habitual. Em minha opinião a proposta do OE 2022 é muito equilibrada – embora possa enfrentar problemas na execução.