Regresso ao interior. “Abençoada rapariga que abriu aqui uma mercearia”
28-07-2021 - 09:51
 • Liliana Carona

Durante sete anos, os cerca de 500 habitantes de Vila Cova à Coelheira, no concelho de Seia, estiveram sem mercearia na aldeia. Mas tudo mudou na semana passada e a ideia partiu de uma emigrante que voltou à aldeia onde cresceu.

A Mercearia da Vila não passa despercebida em Vila Cova à Coelheira. Já lá iam sete anos desde a última vez que se ouviu falar numa mercearia ali e por isso quem passa na aldeia abençoa a iniciativa de Olímpia Luttmann, 50 anos.

“Já dei os parabéns à moça. Veio aqui fazer uma coisa muita boa, aqui na nossa terra. Abençoada rapariga”, reage aos 87 anos, Maria José Dias. Segundo a octogenária, até agora a população remediava-se num café da vila ou tinha de recorrer vizinhos com carro para ir a Seia.

No ano da pandemia, e depois de ter deixado a Alemanha onde foi emigrante durante 30 anos, Olímpia apostou tudo na aldeia que a viu crescer. Regressou a Portugal em 2019 e, em 2020, decidiu arriscar.

Trabalhava na área do catering na Alemanha e, em Vila Cova à Coelheira, inaugurou, há uma semana, a Mercearia/Cafetaria da Vila.

“Achei que era hora de voltar à minha terrinha, meu desejo e sonho, e reparei que a minha terra estava triste, nem uma mercearia tinha. Na Alemanha, em qualquer cantinho se compra. Aqui, tínhamos de ir a Seia. É uma aldeia pequena, mas merece ter um espaço destes”, considera Olímpia à Renascença, destacando o amor à terra e às suas gentes.

“Realmente, eu pensei mais na terra, nas pessoas, algo que animasse. As pessoas são uns amores, ficam todas contentes, é a melhor recompensa. Não necessito disto para viver, mas faço isto para a terra, um carinho que queria para eles”, destaca, apoiada pelo marido, Ralf Luttmann, que está a adaptar-se à nova vida.

“Gosto muito, gente simpática, é uma boa vida aqui. Eu gosto muito dos portugueses e da natureza”, revela o alemão de 51 anos.

Pão fresco todos os dias

Joaquim Pereira, de 73 anos, e Maria da Encarnação, de 70, esfregam as mãos de contentes. “Já fazia falta há muito tempo. Isto parecia uma quinta, agora assim já parece uma vila”, comentam.

“Levo tudo: fruta, sumos, de tudo um pouco. Se não fosse isto, tinha de ir a Seia, a seis quilómetros”, afirma Joaquim, corroborado pela esposa, que acrescenta: “Não tínhamos onde comprar nada. Se nos faltasse o açúcar, tínhamos de ir à vizinha”.

Na mercearia encontram 99 metros quadrados de fruta fresca, legumes, carne fresca, enchidos e queijos tradicionais, doces, iogurtes, cereais, enlatados, massas, arroz, vinho, produtos de limpeza “e tudo o que os habitantes pedirem”, garante Olímpia.

“Pergunto a toda a gente que produtos quer. Não sabemos os gostos das pessoas, tentamos ajudar”, declara a comerciante, que a par da mercearia abriu uma cafetaria, no mesmo espaço.

“Temos pão fresco todos os dias. Eu própria cozo. E os docinhos. Podem tomar o pequeno almoço e o lanche. O objetivo é fazer isto o mais carinhoso possível”, conclui.