Novos ataques em Cabo Delgado podem levar a debandada, alerta OIM
21-11-2022 - 14:45
 • Lusa

A Organização Internacional das Migrações denuncia novos ataques na província de Cabo Delgado, aterrorizada desde 2017 por violência armada.

Novos ataques ocorridos desde quarta-feira em Cabo Delgado, norte de Moçambique, colocaram em fuga dois mil residentes em comunidades do distrito de Muidumbe, anunciou a Organização Internacional das Migrações (OIM).

"Medo e ataques confirmados de grupos armados não estatais no distrito de Muidumbe (Muambula) desde 16 de novembro desencadearam 2.024 movimentos para o distrito de Mueda", lê-se em comunicado distribuído hoje.

O documento resume dados de apenas dois dias, segundo os quais 43% dos deslocados são crianças e 848 pessoas têm vulnerabilidades.

A maioria (76%) fugiu pela primeira vez, mas um quarto dos deslocados já escapou à violência armada por três vezes.

Ainda em Cabo Delgado, no distrito de Meluco, os residentes da comunidade de Minhanha relataram o rapto de quatro pessoas, das quais duas mulheres grávidas, uma criança de 5 anos e um homem.

O sequestro ocorreu na tarde de sexta-feira, em campos agrícolas e os raptores estavam encapuzados com lenços pretos, segundo relataram à Lusa testemunhas que fugiram para Mueda.

Um dos residentes disse ter ouvido os raptores a falar em kimwani, língua local, dizendo que "vão continuar a controlar Minhanha, porque nas 'machambas' [campos agrícolas] há muita comida".

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de violência a sul da região e na vizinha província de Nampula.

Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.