​Boas e más notícias do crescimento do PIB
31-08-2018 - 17:03

Os dados são bons, mas o diabo vem depois nos detalhes e alimenta as reservas dos mais prudentes.

Primeiro as boas noticias: o INE confirmou, esta sexta-feira, que a economia portuguesa cresceu no segundo trimestre 2,3 por cento confirmando a sua anterior previsão. Uma décima acima da média europeia, tornando o nosso nível de vida ligeiramente mais próximo dos nossos parceiros.

Agora as más: o motor de crescimento continua a residir no consumo privado sobretudo puxado pela compra de automóveis dos residentes e o aumento dos gastos dos turistas; o investimento abranda e ainda fica abaixo do registado no segundo trimestre de 2011; as exportações aceleram, mas as importações também e o saldo externo volta a deteriorar-se; o emprego cresce, mas agora cada vez menos.

Os dados revelados pelo INE permitem quase todas as leituras das mais às menos otimistas, mas, embora a passo de tartaruga, uma coisa é certa: há 17 trimestres (51 meses) que a economia não para de crescer “num quadro de maior equilíbrio interno e externo e de consolidação orçamental” (Centeno dixit).

Os otimistas acentuarão - e bem -, o efeito do copo meio cheio. É o caso do comunicado do Ministério das Finanças ao sublinhar “ a forte dinâmica do investimento (6,4 em termos homólogos), com especial destaque para o aumento de 10,2 por cento do investimento em outras máquinas e equipamentos e o crescimento das exportações de bens e serviços que também acelera para 6,8 por cento” mantendo-se “ uma forte dinâmica na criação de emprego ( aumento de 2,1 por cento do emprego total e de 2,9 por cento do emprego remunerado, corrigido da sazonalidade) e na redução do desemprego ( queda de 2,1 pontos percentuais, menos 110 mil desempregados)”.

O diabo vem depois nos detalhes e alimenta as reservas dos mais prudentes: o investimento cresce 6,4, mas isso é menos do que crescia no primeiro trimestre e muito menos do que estava a crescer no inicio do ano passado (7,4 por cento e 10,1 por cento nos dois primeiros trimestres de 2017). É verdade que a formação bruta de capital fixo está a crescer ainda acima do que a última previsão governamental para a totalidade do ano (6,2 por cento previstos em abril), mas o seu contributo enquanto motor para o crescimento é ainda limitado.

Em termos absolutos o volume de investimento está, por outro lado, ainda em valores muito baixos de pouco mais de 8,3 mil milhões o que significa que está ainda aquém dos 8,5 registados no segundo trimestre de 2011 ou seja dos valores investidos no arranque da Troika e muitíssimo abaixo dos 10,2 mil milhões do segundo trimestre de 2008 (pré-crise).

Note-se ainda que, embora as exportações cresçam a bom ritmo de 6,8 por cento (4,7 no primeiro trimestre) o ritmo de há um ano (8,1 por cento) está longe de sequer ser mantido enquanto as importações crescem agora ainda mais e acima das exportações (7,9 por cento). Claro que a subida das importações era esperada, bastando para isso o efeito de retoma, respondendo ao apelo do crescimento do consumo pela via dos bens não duradouros sobretudo os automóveis, a maioria deles importados. Mas esta permanece, contudo, como uma das maiores fragilidades da economia portuguesa.

As importações de bens, que cresciam 6,5 por cento no primeiro trimestre deste ano, crescem no segundo a 8,4 por cento em nítida aceleração. O efeito é simples de antecipar: uma nova deterioração do saldo externo com contributo negativo da procura externa liquida para a criação da riqueza nacional como um todo. A questão que se coloca é a de saber se, para ritmos superiores e desejáveis de crescimento interno, a deterioração do saldo externo não continuará a aparecer como uma fatalidade provando que, depois do tratamento da troika, uma das maiores fraquezas da nossa economia não continua tão presente como antes da crise.

Quanto ao consumo volta a acelerar para um crescimento de 2,6 sendo ainda mais acentuado (3,4 por cento) quando olhamos para o consumo dos turistas. Este é, naturalmente, um sinal positivo. Apesar disso, o Governo tem razão quando salienta que o crescimento conseguido é feito agora num quadro de muito maior equilíbrio macroeconómico e de consolidação orçamental.

A melhoria das expectativas e o reforço da confiança na economia (que animam o consumo e se refletem também no aumento da construção cujo crescimento passou de 3 para 3,6 % no segundo trimestre) não são alheios ao facto de o desemprego continuar em redução acentuada, atingindo o valor mais baixo dos últimos 16 anos. Este efeito de queda do desemprego é acompanhado pela contínua criação de emprego que volta a crescer, 2,9 por cento face ao mesmo trimestre de 2017, mas desacelera face aos 3,3 por cento a que crescia no início do ano.