Mochilas. Estarão as escolas preparadas para os manuais digitais?
17-02-2017 - 14:59
 • Pedro Mesquita

No dia em que o peso das mochilas escolares chega à Assembleia da República, a Renascença apresenta algumas respostas a uma dúvida essencial: qual pode ser o papel das novas tecnologias para aliviar os ombros dos alunos?

"O peso é tão excessivo que nós só queremos é largar a mochila". O desabafo é de Francisco, do 8.º ano. Mas a verdade é que já existem manuais escolares em formato digital.

"Todos os manuais escolares têm uma versão digital. Todos eles, do 1.º ao 12.º ano, a todas as disciplinas e com todos os conteúdos. Correspondem integralmente à versão papel", afirma Paulo Gonçalves, porta-voz da Porto Editora.

O importante, acrescenta, é o conteúdo e não o suporte: "Aquilo que um professor adopta é um manual escolar. É essa opção que tem de ser justificada através de uma grelha de avaliação junto do Ministério da Educação. Agora se é o manual escolar em papel ou em digital...aqui o importante não é o suporte, mas o conteúdo".

Mas, estarão os professores a par deste avanço tecnológico capaz de substituir o papel por um 'tablet', capaz de carregar todos os livros em cerca de 500 gramas? Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos Escolares, trata-se de uma novidade recente: "As escolas não estão informadas disso. Eu nunca tinha ouvido falar da versão digital".

A Porto Editora insiste que tem existido esforço na divulgação dos manuais em formato digital: "Se não tivéssemos interesse, não faríamos um investimento de muitos milhões de euros ao longo destes anos no desenvolvimento dessas soluções".

Receptividade de pais, professores e alunos

Filinto Lima, também director do agrupamento de escolas Dr. Costa Matos, em Gaia, diz que a ideia de transformar os 'tablet' em manuais escolares agrada. Mas deixa um alerta: "É preciso que exista um amplo consenso e um debate. Essa será uma mudança estrutural no ensino e é preciso perceber se as escolas estão dotadas de terminais, se o material informático que não está obsoleto".

E essa é, também, uma dificuldade apontada por quem edita os manuais digitais: "Provavelmente, as escolas não estão preparadas para acolher uma utilização massiva das novas tecnologias", diz a Porto Editora.

Será preciso melhorar a base tecnológica, admite Filinto Lima. Este director de escola acredita que os alunos estão preparados para fazer do 'tablet' um manual: "Penso que estes estariam muito dispostos a abandonar os manuais em papel e a optar pelo digital. Penso, até, que seria proveitoso no sucesso deles".

Francisco, o aluno que dizia que só pensa em largar a mochila pesada, confirma: "Vou ser muito sincero, estudar não aprecio. Em formato 'tablet' acho que até ia ser divertido. Ia ser muito mais fácil apreender".

E o que pensam os encarregados de educação? O presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais, Jorge Ascensão, defende que a opção, caso a caso, será a chave do sucesso: "Sempre defendemos que os jovens e as famílias devem ter o direito de optar. Até pode haver soluções mistas, conteúdos em que é mais fácil estudar no computador - Biologia, Físico-química ou História, na investigação com ajuda a vídeos - e outros em que é mais adequado o formato em papel".

Os livros de papel são mais baratos por culpa do IVA

Na hora de optar entre o papel e o digital importa perceber qual das duas soluções é a mais económica para quem compra. E a verdade é que os manuais em papel são mais baratos.

"A diferença é que o manual em papel tem um IVA de 6% e o digital tem um IVA de 23%. O manual digital acaba por ser mais caro, embora as editoras recebam menos. O IVA faz toda a diferença", explica Paulo Gonçalves, da Porto Editora.

O peso passa, assim, das mochilas para os impostos.