PS confiante numa “grande vitória” autárquica
18-09-2017 - 10:45
 • Susana Madureira Martins

A coordenadora autárquica dos socialistas assume que o objectivo do PS é manter as presidências das associações nacionais de municípios e freguesias.

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Em 2013, durante a liderança de António José Seguro, o PS conquistou a presidência de 149 câmaras municipais - ou 150, se se contar com a supercoligação que venceu a autarquia do Funchal, na Madeira. A actual direcção nacional do PS prefere não falar de metas nem de números, mas a intenção da coordenadora autárquica, Ana Catarina Mendes, é muito simples: “Concorrer a todo o território nacional, conquistar o maior número de freguesias e de câmaras, aumentar o número de votos e de mandatos.”

O PS quer ir além das 149 câmaras conquistadas em 2013, mas o que o partido quer mesmo é, segundo a também secretária-geral adjunta do PS, manter as presidências da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE).

À Renascença, a secretária-geral adjunta socialista diz mesmo que tem “a certeza que o PS vai manter as presidências da ANMP e da ANAFRE”. E vai mais longe: está “convencida que o PS vai ter uma grande vitória” nas eleições de 1 de Outubro.

Perante casos polémicos nos distritos do Porto e de Braga, em que se viu directamente envolvida, Ana Catarina Mendes reconhece que o processo de escolha de candidatos “foi aqui ou ali mais renhido, mas de uma maneira geral tranquilo”.

A dirigente socialista já anda na estrada há alguns meses e diz que a sua percepção do terreno é a de um partido muito confiante e muito mobilizado na vitória. “Por isso, mais do que falar em números, quero dizer que tenho absoluta confiança em todos os candidatos do PS”, afirma Ana Catarina Mendes. Apesar da “confiança”, assume que “até à hora da contagem dos votos do dia 1 de Outubro todos os cenários são prematuros”.

Ana Catarina Mendes percebe que está em causa a sua própria actuação, já que tem uma responsabilidade muito directa naquilo que vier a acontecer: a derrota, a vitória ou um resultado a meio do caminho.

Questionada sobre esse eventual pedido de responsabilidades por parte do próprio partido, responde: “A seu tempo todas as avaliações serão feitas e cá estou também enquanto coordenadora autárquica e secretária-geral adjunta para assumir todas as responsabilidades daquilo que são as eleições autárquicas.”

E, perante a insistência sobre se sente a espada em cima da cabeça, remata: “No seu momento próprio todas as avaliações são feitas, não vou fazer antecipações.”

Liderança de Costa “não está em causa”

Se a coordenadora autárquica sente a responsabilidade pelo que acontecer na noite eleitoral, ao mesmo tempo alivia o líder do partido e primeiro-ministro do eventual fardo de uma derrota autárquica do PS.

Para Ana Catarina Mendes, é “evidente que não está em causa a liderança do PS” e que “não está em causa a estabilidade do governo”. “Haverá leituras políticas que terão de ser feitas, mal de nós se não fizermos uma avaliação do que correu bem e o que correu mal”, reconhece.

António Costa irá surgir pontualmente na campanha autárquica, reservando as visitas ao terreno para os fins-de-semana, sextas-feiras incluídas. Mas na primeira semana de campanha oficial vai estar praticamente toda a semana em Nova Iorque, na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Nos últimos fins-de-semana, Costa já tem percorrido grande parte dos distritos em autêntica campanha, sobretudo a Norte, e no fim-de-semana de 23 e 24 vai ao Alentejo e Algarve. Durante a última semana, fará alguns comícios à noite à volta de Lisboa.

Ana Catarina Mendes assume que o “o secretário-geral do PS pôs à frente dos seus objectivos a governação do país”. Por isso, ainda mais responsabilidade pesa sobre a secretária-geral adjunta que, no terreno, se vai confrontando com aqueles que são parceiros do PS na maioria parlamentar e estão, nesta altura do ano, a negociar o Orçamento do Estado.

PS e PCP disputam os mesmos territórios

Nestas eleições autárquicas, contudo, o PCP, parceiro do Governo. desdobrou-se e tornou-se adversário assumido dos socialistas. Há duas semanas, o discurso de encerramento de Jerónimo de Sousa na Festa do Avante foi alicerçado nisso mesmo, pedindo às bases que dêem músculo eleitoral ao partido para melhor negociar o Orçamento do Estado com o Governo.

É reconhecida a malha autárquica do PCP e a implantação do partido nalgumas regiões do país, sobretudo no Alentejo. Jerónimo não as quer perder, quer reforçá-las.

“Apesar de as eleições ocorrerem a 15 dias da entrega do Orçamento do Estado, não podemos nem devemos transformar estas autárquicas numa antecâmara da discussão do Orçamento”, avisa Ana Catarina Mendes, garantindo que está “absolutamente convencida que as negociações [orçamentais] estão a decorrer com tranquilidade, têm outro palco”.

Os socialistas desvalorizam qualquer tensão entre os dois partidos. A secretária-geral adjunta do PS diz que “estas eleições autárquicas não diminuem nem a capacidade nem a identidade do PS, nem a identidade ou capacidade do PCP como partido autárquico”. O “grande adversário”, diz, é a abstenção.

Legislatura até ao fim

Ana Catarina Mendes considera que as autárquicas não só não põem em causa quaisquer relações com os parceiros de esquerda como não vão afectar a estabilidade governativa.

A 24 de Maio de 2016, o Presidente da República (PR) marcou no calendário o momento de reavaliação da situação política nacional. “Depois das autárquicas veremos o que se passa”, disse Marcelo Rebelo de Sousa na Amadora, garantindo que não iria dar um passo para provocar instabilidade naquilo que considerou ser um ciclo político que iria até às eleições de 1 de Outubro.

À Renascença, a dirigente nacional do PS conclui que não entende as eleições autárquicas “como uma prova de fogo à estabilidade do Governo, mas um momento de reforço da democracia”, voltando ao “apelo a que haja forte mobilização nestas eleições na sociedade portuguesa para que a abstenção não seja uma repetição”.

Faltam dois anos para o fim da legislatura e para a secretária-geral adjunta do PS “é evidente” que ela “vai até ao final” e durará “quatro anos” porque “não há nenhuma razão para que ela não sobreviva”. “O PS continua empenhado nesta solução governativa”, diz Ana Catarina Mendes, rematando com um significativo “assim haja vontade política”.