Tensão na Ucrânia. Separatistas acusam Kiev de quebrar cessar-fogo
17-02-2022 - 09:58
 • João Cunha , Marta Grosso

Acusações surgem depois de o Ocidente ter revelado evidências de que as movimentações russas junto à fronteira se mantêm, apesar do anúncio de retirada das tropas por parte de Moscovo.

Separatistas da autoproclamada República Popular de Lugansk, apoiados pela Rússia, garantem que as forças ucranianas usaram morteiros, lança-granadas e uma metralhadora em quatro incidentes separados, nas últimas 24 horas.

Em comunicado, acusam as forças armadas da Ucrânia de terem violado grosseiramente o regime de cessar-fogo.

Os militares da Ucrânia já vieram negar as acusações, afirmando que foram os rebeldes que bombardearam os militares ucranianos.

Por seu lado, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa ( OSCE) diz ter registado, nesta quinta-feira, vários bombardeios ao longo da linha de contacto entre rebeldes apoiados pela Rússia e forças do Governo, no leste da Ucrânia. A informação é avançada por fonte diplomática à agência Reuters.

Os incidentes que poderão alimentar a tensão existente entre a Rússia e o Ocidente, ainda para mais porque a câmara baixa do Parlamento russo votou esta semana um pedido ao Presidente, Vladimir Putin, para que reconhecesse as duas autoproclamadas repúblicas separatistas do leste da Ucrânia – Donetsk e Lugansk – como independentes.

Imagens de satélite mostram movimentações russas

Imagens de satélite revelam intensas atividades militares russas junto à fronteira com a Ucrânia. O alerta foi dado pela Maxar Technologies, uma empresa de tecnologia espacial com sede nos EUA que tem acompanhado a movimentação das forças russas há semanas.

E há mais países ocidentais a avisar contra as movimentações russas, o que

contradiz a declaração de Moscovo sobre uma retirada. Segundo o chefe dos serviços secretos britânicos, citado pela agência Reuters, foram vistos mais veículos blindados, helicópteros e um hospital de campanha na zona.

E, em declarações à BBC, a ministra britânica dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, deixou avisos de que o Ocidente não se deixa enganar pelas alegações da Rússia de que está a retirar as forças da Ucrânia.

Nos últimos dias, a Rússia mobilizou para a fronteira mais de 7.000 soldados, incluindo o contingente que chegou na quarta-feira, avança por seu lado um alto funcionário da Casa Branca, sem adiantar evidências.

“Há o que a Rússia diz. E há o que a Rússia faz. E não vimos qualquer retração de suas forças”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em entrevista à MSNBC. “Continuamos a ver unidades militares a mover-se em direção à fronteira, não longe da fronteira”, adiantou.

A Rússia nega querer invadir a Ucrânia, mas quer impedir a todo o custo a adesão do país à NATO. Na fronteira, a tensão existe há décadas, o que tem minado as relações entre Moscovo e o Ocidente.

De acordo com os serviços secretos da Estónia, há cerca de 10 grupos de combate a dirigir-se para a fronteira ucraniana, onde se estima que já estejam cerca de 170.000 soldados, diz o diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estónia, Mikk Marran.

O cada vez mais iminente ataque deverá incluir mísseis e a ocupação de "terrenos-chave", acrescenta, deixando um alerta: “Se a Rússia for bem-sucedida na Ucrânia, irá aumentar a pressão sobre os países bálticos nos próximos anos. A ameaça de guerra tornou-se a principal ferramenta política de Putin”.

Rússia nega mas não convence

O Ministério da Defesa da Rússia afirma que suas forças estão a recuar da fronteira com a Ucrânia depois de terem realizado exercícios nos distritos militares do Sul e Oeste. Segundo o embaixador de Moscovo na Irlanda, as forças no Oeste da Rússia voltarão às suas posições normais dentro de três a quatro semanas.

E publicou um vídeo onde se veem tanques, veículos de combate de infantaria e unidades de artilharia autopropulsadas a deixar a península da Crimeia, que Moscovo anexou em 2014 (e fazia parte da Ucrânia).

Mas as forças aliadas não acreditam nas palavras de Moscovo e começam a preparar as suas forças. Só a Grã-Bretanha conta duplicar o contingente na Estónia e enviar tanques e veículos blindados para a pequena república báltica que faz fronteira com a Rússia.

Da parte da Ucrânia, também há aumento do número de guardas de fronteira com a Bielorrússia, aliada da Rússia, onde se estima que cerca de 9.000 soldados russos estejam envolvidos em exercícios militares.

No plano diplomático, a Ucrânia pediu ao Conselho de Segurança da ONU que discutisse a situação na região nesta quinta-feira, numa tentativa de o Parlamento russo reconhecer os autoproclamados separatistas.

A ministra britânica dos Negócios Estrangeiros deverá visitar Kiev durante esta semana enquanto o seu homólogo norte-americano viajará para a Alemanha, para a Conferência de Segurança de Munique (que começa na sexta-feira) para se coordenar com os aliados.

“A porta continua aberta para a diplomacia”, afirmou Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.