A ideologia é um elemento essencial da vida política. Mas, por vezes, ela leva a leituras desfasadas da realidade. Vejamos dois casos atuais.
O PCP recusou integrar o grupo de trabalho da Assembleia da República que deve propor uma comemoração do 25 de Novembro de 1975. O PCP considera que celebrar essa data no Parlamento seria “uma desvalorização do 25 de Abril”.
É certo que comemorar a queda do regime derrubado após quase meio século deverá ser diferente de lembrar o 25 de Novembro de 1975. O que se passou nesta data pôs termo à deriva da esquerda não democrática, que ameaçou com uma nova ditadura, agora de esquerda. Sendo que o 25 de Novembro não ilegalizou o Partido Comunista, mas confirmou o empenho nacional em viver numa democracia pluralista. Certamente que a imaginação dos deputados saberá encontrar uma comemoração para o 25 de Novembro, diferente da celebração do 25 de Abril.
Entretanto, a ideologia de esquerda parece contribuir para que o PS não se abstenha na votação do Orçamento para 2025 e vote contra. Na raiz dessa tendência estará a discordância dos socialistas quanto à baixa do IRC, o imposto sobre o rendimento das empresas, baixa pretendida pelo Governo. Para já, o Governo aceitou descer em 2025 apenas um ponto percentual o IRC.
Estará o PS ciente de que a subida da receita fiscal do IRC no primeiro semestre do corrente ano foi superior em 25% à receita registada no primeiro semestre de 2023? É o que revelou a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), que funciona na Assembleia da República.
Também é sabido que o IRC português, com todos as inerentes derramas e acréscimos de taxas, é o imposto sobre o rendimento das empresas mais elevado da União Europeia. Baixar o IRC parece, assim, ser um imperativo para que a economia portuguesa cresça. Mas o PS de esquerda de Pedro Nuno Santos tende a classificar uma baixa deste imposto como uma concessão ao grande capital. Ceder a ilusões ideológicas poderá sair caro ao país.